Um ano depois do anúncio, a parceria entre a Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas) e a Shein, que deveria possibilitar a instalação de uma fábrica da varejista chinesa em Macaíba e a confecção de peças diversas, frustra as oficinas de costura integrantes do Pró-Sertão no Rio Grande do Norte. Celebrada em julho de 2023, a parceria não avançou. Desde outubro do ano passado, não há mais conversas junto às oficinas por parte das duas empresas. O anúncio da parceria foi feito, após um encontro que reuniu o presidente Lula da Silva (PT) e a governadora Fátima Bezerra, além de representantes da Shein e da Coteminas, em Brasília.
O secretário de Desenvolvimento Econômico do RN, Sílvio Torquato, confirmou à reportagem nesta segunda-feira (15) que o acordo não prosperou e preferiu não comentar sobre expectativas em relação à possibilidade de a parceria ainda acontecer. “Não sabemos o que houve, mas ocorreu algum problema entre a Shein e a Coteminas, e nada andou. Nem dá para afirmar se a parceria pode se concretizar, porque é uma decisão que cabe somente às empresas”, explicou o gestor.
A TRIBUNA DO NORTE procurou a Coteminas, que não quis comentar o assunto. A reportagem não conseguiu fazer contato com a Shein. Mas ouviu empresários das oficinas de costura em torno do provável acordo, que relataram desânimo. A falta de diálogo registrada a partir de outubro de 2023, aumentou, segundo eles, em maio deste ano quando a Coteminas pediu recuperação judicial por dívidas de mais de R$ 1 bilhão. Inicialmente, três oficinas potiguares seriam contempladas pela parceria.
Ronaldo Lacerda, diretor da Cabugi Confecções, localizada em Lajes, disse que há uma sensação de frustração em torno da situação. “O acordo iria gerar emprego, melhorar a economia. Hoje, no Pró-Sertão, temos apenas uma âncora, que é a Guararapes. Se tivéssemos outra, seria importante para fortalecer o setor”, afirma Lacerda. Ele disse que chegou a fazer 80 amostras que foram aprovadas pela Shein, mas não recebeu encomendas. “Não tivemos prejuízos porque não cobramos nada por essas peças. Fizemos tudo como investimento. Infelizmente, não sabemos o que aconteceu”, falou Ronaldo Lacerda.
Zeca Araújo, proprietário da Zaja Confecções, em Cerro Corá, disse que a oficina estava pronta, inclusive, para fazer novas contratações, visando o acordo. “A expectativa era contratar e produzir conforme a demanda. Chegamos a ter uma parceria com o Senai para qualificar mais de 200 pessoas na cidade. Sem o acordo, fiquei com a sensação de ter sido enganado. Ainda mantivemos contato direto com a Shein este ano, independente da parceria com a Coteminas, para produzir alguns itens, mas o prazo dado inicialmente para entrega, de 60 dias, foi reduzido para 30, bem como os preços dos produtos, e isso tornou tudo inviável”, comentou Araújo.
Zeca Araújo afirma que a expectativa, agora, é zero. “Depois de todo esse silêncio, de outubro para cá, nossa expectativa em relação ao acordo é zero. Não aumentamos a produção, porque aguardávamos a parceria em definitivo, mas estávamos prontos para isso e para contratar novas pessoas”, revelou Zeca Araújo.
Recuperação judicial
Com R$ 1,1 bilhão em dívidas, a Coteminas entrou com pedido de recuperação judicial em maio deste ano. Ao jornal Valor Econômico, a companhia afirmou que espera retomar a parceria e que problemas internos ainda precisam ser resolvidos. A empresa afirmou que enfrentou problemas com as etapas de lavação e acabamento final. Para o Estado do Rio Grande do Norte, conforme a publicação do “Valor”, a empresa precisa lidar não apenas com custos de peças mais competitivas, mas com a necessidade de empresas locais para fabricação de zíper e botões, por exemplo, cujos itens acabam sendo importados da China e elevando o custo final.
No ano passado, a Shein se comprometeu a nacionalizar 85% de suas vendas em quatro anos, com produtos feitos no Brasil e chegou a anunciar que faria investimentos de cerca de R$ 750 milhões no setor têxtil brasileiro para gerar até 100 mil empregos indiretos no País nos próximos três anos.
Tribuna do Norte