Padre João Medeiros Filho
Quem pensar em seguir Jesus Cristo não deverá esquecer que a oração integra a essência da espiritualidade. Entretanto, poucos rezam e, muitas vezes, quando o fazem, têm dificuldade de se expressar diante de Deus. Embora possa parecer que a prece seja uma manifestação da fé, por vezes, torna-se difícil ou talvez ineficaz. Os discípulos do Senhor observavam os hábitos de oração do seu Mestre. Viram-No frequentemente retirando-se a lugares desertos a fim de falar com o Pai. Numa dessas ocasiões, pediram-Lhe ajuda. Desejavam comunicar-se com Deus, como Seu Filho o fazia. E assim suplicaram: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11, 1). Jesus fez o que Lhe pediram. Ensinou-lhes com palavras e exemplos.
Teriam eles aprendido? Dois episódios narrados nos Atos dos Apóstolos mostram que compreenderam a importância da oração. Perseguidos e presos por causa de sua pregação, Pedro e João uniram-se a outros fiéis e, com confiança, suplicaram coragem para continuar a obra apostólica (At 4, 23-31). Ao citar o Salmo 2 mostraram haver entendido que o poder da prece se encontra Naquele que a escuta, pois Ele “está nos céus” (Sl 2, 4). Quando confrontados com as necessidades materiais das viúvas na comunidade de Jerusalém, os apóstolos constituíram diáconos para atendê-las. E no texto bíblico, encontra-se o motivo de sua decisão: “E, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da Palavra” (At 6, 4). A caridade com as viúvas e necessitados não era para ser negligenciada, mas os discípulos do Senhor deveriam também reservar tempo suficiente para algo muito importante: conversar com Deus. Haviam aprendido a lição e os hábitos de Jesus.
“Mas para aprender a rezar, é preciso pôr-se de joelhos e escutar o silêncio”, dizia a mística Santa Teresa d´Ávila. A importância de calar-se para orar encontra-se em todos os textos teológicos, bíblicos e litúrgicos. “No silêncio alguma coisa irradia”, escreveu Exupéry. Na missa da Oitava do Natal, lemos as palavras do Livro da Sabedoria: “Enquanto um profundo silêncio envolvia todas as coisas e a noite ia, no meio do seu curso, desceu do céu, ó Deus, a vossa Palavra onipotente” (Sb 18, 14-15). Na quietude das pessoas e do universo, Deus manifestou-se ao homem. E Sua Palavra onipotente se encarnou. Todo o universo se aquieta, quando Deus vem a nosso encontro. A atitude silente da criatura diante do Criador deve ser de adoração de um discípulo, que escuta o Mestre e dele aprende Palavras de Vida. A mesma mensagem pode-se encontrar no Profeta Habacuc: “O Senhor está em seu santuário sagrado. Cale-se diante de sua presença, ó terra inteira” (Hab 2, 20).
Segundo os evangelistas, na quietude da noite, Cristo retirava-se para as montanhas a fim de encontrar-se com o Pai. No recolhimento interior, longe da azáfama do cotidiano, Jesus escutava-O para depois proclamar o grande mistério, gerado desde toda a eternidade. Assim escreveu Paulo aos Romanos: “Um mistério latente, desde os séculos eternos, agora foi manifestado” (Rm 16, 25-26). Além desse elemento fundamental à prece, é necessário também tempo. Nós, filhos da modernidade e tecnologia, somos escravos da cronologia. Trazemos nos pulsos nossas algemas interiores e exteriores (os relógios). Não sabemos dedicar tempo a Deus. Cada vez mais, oramos menos e não percebemos a dimensão de gratuidade e beleza do amor divino.
A oração é a expressão de nossa intimidade com Deus e nosso amor por Ele. É um falar constante com Aquele que amamos. Quem ama sente necessidade de estar perto, conversar e ter momentos a sós com a pessoa amada. Da mesma forma, a oração é ato e expressão de amor pelo nosso Pai Celestial. E quando se ama, o tempo é um obstáculo. Nós, escravos da cronometria, não sabemos dispor da temporalidade para desfrutar da experiência amorosa de Deus. Falamos sobre Ele, suplicamos ao Onipotente, mas esquecemos de deixá-Lo falar dentro de nós. A oração acalma, consola e anima. Lembrava Santo Agostinho: “Ela é a fortaleza do homem e a fraqueza de Deus.” É preciso crer naquilo que assegura o Mestre: “Pedi e vos será dado, procurai e achareis, batei e a porta vos será aberta” (Mt 7, 7).