A capital potiguar está em alerta para a possibilidade iminente de adoecimento por dengue. De acordo com um atlas lançado no final de janeiro pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), 25 dos 36 bairros de Natal possuem risco alto ou muito alto de contaminação por dengue, zika e chikungunya. O levantamento indica que apenas onze bairros (oito na zona Sul, além de Petrópolis, na zona Leste, Bairro Nordeste, na zona Oeste, e Salinas, na zona Norte) apresentam situação de menor vulnerabilidade para as doenças, com risco baixo ou médio. A dengue é a infecção que mais preocupa, por causa do número de casos prováveis em 2024 (foram 442 até esta semana, segundo dados preliminares). A SMS prevê uma epidemia da doença até abril.
Segundo as informações contidas no atlas, o alerta máximo segue para os distritos Norte I e II, Leste e Oeste. Todos os bairros do distrito Sul (Ponta Negra, Neópolis, Capim Macio, Pitimbu, Planalto, Candelária, Lagoa Nova e Nova Descoberta) registraram baixo ou médio risco. Já os bairros com maior vulnerabilidade são Santos Reis, que tem toda a área com risco muito alto para contaminações, além de Rocas, Pajuçara, Lagoa Azul e Felipe Camarão, os quais registram boa parte de seus territórios com alerta vermelho (risco muito alto).
Para a confecção do atlas, cada bairro foi subdividido em uma espécie de blocos, chamados ‘zonas’ – que correspondem a áreas constituídas por 800 a mil imóveis – as quais recebem as classificações de acordo com a metodologia do levantamento. Dentro de cada bairro, portanto, existem variações, a depender da região. O que chama atenção, no entanto, é que em alguns desses bairros, como Igapó, Cidade da Esperança, Nossa Senhora de Nazaré, Dix-Sept Rosado, Bom Pastor, Mãe Luiza e outros, todas as áreas são classificadas como risco médio, alto e muito alto.
Em alguns outros bairros, a classificação de baixo risco está restrita a pequenas ‘zonas’, o que aponta para a vulnerabilidade da região, segundo Úrsula Torres, gerente técnica da Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ) da SMS. Este é o caso de Pajuçara, Potengi, Lagoa Azul, Redinha e Nossa Senhora da Apresentação. “Esses bairros têm em comum características sociais, econômicas e estruturais, as quais, em geral, são mais semelhantes entre si e por isso estão mais vulneráveis”, explica Torres.
“Para o atlas, foram considerados fatores como apresentação considerável de transmissão das doenças nos quatro anos analisados e os registros da população vetorial [mosquito] elevada. Também verificamos a existência de problemas como intermitência no abastecimento de água, bocas de lobo expostas e caixas d’águas abertas, que colaboram com a criação do mosquito. Essas variáveis, coletadas a partir da visita dos nossos agentes, vão para um banco de dados e servem para dimensionar o grau de risco”, afirma Úrsula Torres.
O documento leva em consideração os dados coletados em quatro anos (2019, 2020, 2021 e 2022) para apontar a vulnerabilidade das áreas. A metodologia para se chegar à classificação levou em conta aspectos como entomologia (análise da presença do vetor nas regiões), epidemiologia (análise espaço-temporal do número de casos prováveis e confirmados em cada território) e persistência (levantamento da quantidade persistente de casos e adoecimento em um determinado tempo, no mesmo território).
As subdivisões dos blocos em cada bairro resultaram em 426 ‘zonas’, conforme denominação do levantamento. Deste total, 174 registraram risco alto ou muito alto (140 para risco alto e 34 para a situação considerada mais crítica entre todas as classificações), 164 tiveram risco médio e 88 foram classificados como risco baixo.
Epidemia será nos próximos meses
De acordo com a SMS, os dados preliminares da sétima semana epidemiológica apontam que em 2024 a capital contabiliza 493 casos prováveis de arboviroses, ante 276 no mesmo período do ano passado (aumento de 78,62%). Os dados foram repassados à reportagem na última sexta-feira (16), mas só serão consolidados a partir desta segunda-feira (19) uma vez que a semana epidemiológica foi encerrada no sábado (17). As notificações de dengue (442) equivalem à maior parte (89,65%) do total de casos prováveis em 2024, com 71 confirmações para a doença. Em seguida vêm chikungunya (56 casos prováveis e sete confirmados). Zika teve cinco casos prováveis em 2024 e nenhuma confirmação. Não houve óbitos decorrentes de nenhuma das arboviroses.
Úrsula Torres, da UVZ, explica que o monitoramento a pacientes que adoecem, bem como do mosquito, é realizado semanalmente na capital. Quando há a incidência dos dois, como tem ocorrido agora, há o risco de epidemia. Apesar do alerta, Torres pontua que a situação na cidade ainda é mais confortável do que em outras regiões do País. “A questão é que temos um aumento considerado das notificações em relação a 2023 e que vem se mostrando crescente desde o início deste ano. Estamos vigilantes”, afirma.
Com a instituição do gabinete e a elaboração do plano de contingência, a SMS estabelece as ações e estratégias que serão implementadas para prevenir uma eventual situação epidêmica. Dentre essas ações estão a sensibilização da rede de saúde do Município, assistência farmacêutica e laboratórial, além da gestão de recursos humanos para as áreas que apresentam a maior concentração de casos para as arboviroses.
“Estamos intensificando nosso trabalho de rotina, com visita dos agentes às áreas de maior risco, bem como campanhas educativas nas escolas, desde a educação infantil ao EJA, centros comunitários e também nas praias”, comenta Úrsula Torres. Ela explica que, quando existe a notificação humana de casos, a Vigilância de Zoonoses entra com ações de bloqueio. “Temos o carro fumacê, que só chega em campo quando há um grande aglomerado de casos humanos. No momento, a situação não é essa”, afirma.
“Então, estamos com o UBV [Ultra Baixo Volume], que é a aplicação do mesmo inseticida utilizado pelo fumacê, só que com um aparelho que o agente carrega nas costas. O UBV não tem o mesmo grau de varredura do carro e por isso é usado quando existem menos notificações e espaços mais curtos”, acrescenta a gerente da Vigilância de Zoonoses. Natal também utiliza, segundo a SMS, a tecnologia das ovitrampas, armadilhas que ajudam no monitoramento e controle do vetor (são cerca de 400 espelhadas pela cidade).
Apesar das medidas, Úrsula Torres alerta que a população precisa ajudar no combate ao mosquito. “A gente ainda esbarra na resistência das pessoas em deixar que os agentes entrem nas residências, porque elas imaginam não ter focos em casa”, diz.
Fonte: www.tribunadonorte.com.br