Tradição de mais de 100 anos em Nata e situada em uma extensão de 515 metros na avenida Presidente Quaresma, entre a rua dos Canindés (antiga avenida 6) e a Avenida Coronel Estevam (av. 9), a Feira do Alecrim mantém-se viva entre feirantes e consumidores alheios à concorrência das grandes redes atacadistas.“Aqui é o maior shopping a céu aberto da cidade”, atesta o engenheiro e economista Francisco de Assis Raimundo, que frequenta o local desde criança: “Meu pai e meu avô foram feirantes aqui, fui ajudante deles”.
Nem passava pela cabeça de Francisco Raimundo que, na sexta-feira (25), foi comemorado o “Dia do Feirante” e nem tinha muito o que reclamar estrutura da feira livre do Alecrim, que é declarada, por lei, patrimônio imaterial do Rio Grande do Norte. “Batedor de carteira tem em todo lugar, até em Barcelona, na Espanha”, conta.
Outros compradores são frequentadores assíduos da Feira do Alecrim, como os irmãos Rui e Sandra Gomes Barbosa, que desde a infância no interior, em Cerro Corá, na região do Seridó, já costumavam a acompanhar a mãe na feira livre. “Onde tem feira, eu vou”, assegura Rui Gomes.
“Aqui a gente encontra de tudo”, disse Sandra Gomes, a respeito de mercadorias que não acham em prateleiras e gôndolas de supermercados. Funcionária pública, ela exibia no saco plástico duas vassouras de palha: “É melhor do que vassoura de pêlo (ou plástica), lá em casa tem cachorros e essa vassoura é melhor”.
Os próprios feirantes e barraqueiros não tinham queixas das acomodações, como Ivo Cosme da Silva, vendedor de melancia, que há mais de 15 anos trabalha no Alecrim. “Eu trabalhava numa fábrica de sandálias na semana e na folga do sábado e domingo, passei a vender nas feiras, gostei e não deixei mais”, disse.
Época
Ivo Cosme afirmou que a estrutura disponibilizada na feira é mais adequada do que há alguns anos, época em que os barraqueiros tinham as próprias coberturas de lonas. “Vinha o vento e jogava tudo fora”, disse. Hoje, uma firma terceirizada põe a cobertura móvel e banheiros públicos, que são deslocados a cada dia para as diversas feiras livres existentes em Natal.“O que a gente tem de fazer, é saber tratar o cliente para ele voltar”, reforça Cosme, que além de Natal , leva sua barraca para feiras interioranas, como a de São José de Mipibu.
Vendedor de caldo de cana e outras iguarias na feira livre, Wellington Batista diz que, às vezes, os problemas são das próprias pessoas, que “não zelam pelas coisas”, e não cuidam do uso de banheiros, exemplifica, pois pensam que é do poder público, “mas tudo é pago com nosso dinheiro”. Maria Ribeiro Barbosa, 87 anos, diz que é a feirante mais antiga do Alecrim, onde trabalha há 70 anos. Em tom de brincadeira, sempre torce para alguém comprar sua mercadoria (pimentas e outras especiarias) e deixar uma gorjeta.
Feira do Alecrim completou 103 anos
A feira livre do Alecrim nasceu em 20 de julho de 1920 por iniciativa de um grupo de comerciantes liderados pelo paraibano José Francisco dos Santos. Na época, a ideia era manter a feira aos domingos, mas a administração pública de então não concordou e os negociantes anteciparam o dia da feira para o sábado.
Em 20 de janeiro de 2021, a governadora Fátima Bezerra (PT) sancionou lei de iniciativa do deputado Ubaldo Fernandes (PSDB), que considera a Feira do Alecrim Patrimônio Cultural Imaterial do Rio Grande do Norte.
Já em 2020, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) informava o cadastramento de 532 feirantes, distribuídos entre as atividades de alimentação, cereais, carnes, queijos, pescados e crustáceos, gomas, frutas e verduras, produtos do sertão, ração animal, tempero e condimentos. Além da Feira do Alecrim aos sábados, os natalenses também frequentam, no período das 5 horas às 13 horas, feiras livres nos bairros das Rocas (2ª feira), Felipe Camarão e Igapó (3ª feira), Aliança e Carrasco (4ª feira), Cidade Praia, Panorama e Planalto (5ª feira), Parque dos Coqueiros (6ª feira), Santa Catarina e Pajuçara (sábado), Cidade da Esperança, Felipe Camarão, Gramoré, Lagoa Seca, Mãe Luiza, Nova Natal, Nova República, Pirangi e Quintas (domingo).
A data comemorativa de 25 de agosto como Dia do Feirante, remonta a 1914, quando o então prefeito de São Paulo, Washington Luís, que viria a ser presidente da República, instituiu a criação de mercados francos para regularização das feiras livres, que ocorriam de maneira irregular e desordenada na capital paulista.
Desde então o Dia do Feirante, no Brasil, está associado a esse primeiro documento que tornou regular na cidade de São Paulo um dos ofícios mais antigos do mundo.”As feiras livres no Brasil apareceram com o início da colonização portuguesa, a partir do século XVI. Desde os primórdios da Vila São Paulo (ainda n o século XVI), que daria origem à cidade de São Paulo, havia relatos de bancadas de verduras montadas nas ruas para comércio.
Fotos: Alex Régis
Fonte: Tribuna do Norte