Padre João Medeiros Filho
Entre as mensagens natalinas recebidas, gostaríamos de partilhar esta: “A luz e o canto anunciaram a alegria da nova vida, o sorriso encantador da esperança e a certeza inefável da vitória. E tudo isto é, a um só tempo, tão simples e frágil, grandioso e resplandecente. Resume-se numa palavra: Cristo”. Nosso Salvador pode caber numa manjedoura! É surpreendente e excepcional! Despojamento assim alguém já viu? Eis a lição da soberania do Amor sobre o poder e a pompa! Ninguém, em lugar algum do universo, pode proclamar notícia mais bela. O Verbo encarnado, gente como nós, foi gerado de uma jovem para dar sentido à vida, nascido numa pequena cidade para ocupar o centro do mundo e da história. Transformou o cocho de uma estrebaria em berço do Pão da Vida. Veio ao mundo numa noite fria e solitária para ser calor e elo de todos. Nasceu na escuridão iluminada pelas estrelas para ser a Luz do mundo. No silêncio da madrugada, em que apenas Maria e José entrelaçavam os olhares, ouviram o canto dos anjos: “Glória a Deus nas alturas e Paz na terra aos homens por Ele amados” (Lc 2, 14).
Oxalá sejamos capazes de entender o sentido da vinda do Filho de Deus e colocar em prática as suas palavras, empenhando-nos a fim de que haja no mundo lugar digno para todos: crianças, idosos, doentes, pobres e excluídos pela sociedade. Só viverá a lição do Natal, quem for capaz de compreender que nosso Deus é o Deus do amor, da ternura, paz e misericórdia. No limiar do Ano Novo, ainda estamos envolvidos pelos problemas, angústias, desrespeito, ódio e radicalismo disseminados, crises e sonhos que marcaram o Brasil e nosso Estado. Vale recordar as palavras do profeta Isaías: “A quantas está a noite? A sentinela responde: Não tardará o amanhecer” (Is 21, 12). O que nos reserva o futuro? Mesmo que tenhamos muitos planos, exaure-se a expectativa de sua realização diante das incertezas do amanhã. Há sempre um desafio, que só poderá ser respondido com a graça divina. Um encontro e confronto, em que nos deparamos com dúvidas e esperanças, o desconhecido e o desejado. É a cronologia dos homens, presente nas entranhas da eternidade do Pai.
É lugar comum desejar um feliz e próspero ano! Mas, não raro, isto soa como uma expressão formal, fruto da etiqueta e boas maneiras. O augúrio de paz deve brotar da sinceridade de nosso coração, arraigado na esperança de todos para avançar na construção de uma sociedade, onde reinem o respeito e a fraternidade, descartado o ódio e fortalecidas as formas de dignidade humana. Isto deve ser a razão de nossa alegria e efusão de nossos sentimentos, na beleza dos fogos de artifício iluminando a noite e saudando o alvorecer do ano que chega.
A paz! Eis o grande dom que devemos aspirar para nossas vidas. Queira Deus, recebamos, em todos os dias de 2020, a bênção bíblica transmitida a Moisés e retomada por São Francisco: “O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer a sua face sobre ti, e tenha misericórdia de ti. O Senhor levante sobre ti o seu rosto, e te dê a sua Paz” (Nm 6, 24-26). Ao despontar de mais um ano, rezemos para que o “fruto bendito do ventre de Maria” seja reconhecido e amado. A Palavra por Ela gerada seja escutada e vivida. O amor por Ele pregado seja compreendido e transmitido. O perdão trazido aos homens pela prodigalidade divina seja repartido e imitado. A doçura e a misericórdia do Eterno substituam a insensibilidade e o egoísmo. Assim, haveremos de sentir que teremos um ano de graça e paz, que vêm de Jesus Cristo, o Salvador do Mundo.
Ao começar uma nova década, desejamos a todos a riqueza das bênçãos e do amor de Deus! Meditemos, sobretudo agora, as palavras do “Poverello de Assis”: “Senhor, fazei de mim um instrumento de Vossa Paz, onde houver ódio que eu leve o Amor”!