A moralização necessária

Padre João Medeiros Filho
Urge reverter o grave quadro de crises que afeta a nossa sociedade. Para que isto aconteça, se requer uma assimilação da norma moral. Isto é prioritário para haver um tecido cultural capaz de promover o respeito, a verdade, a justiça e o bem estar coletivo. Fatos comprovam que uma vida pautada pela ética está ainda bem distante. Há manifestações acentuadas no Brasil de hoje, veiculadas pela mídia. Destacam-se aqueles que estão prontos para protestar e condenar o próximo, mas não perdem a oportunidade de levar vantagem e não se incomodam de assumir práticas lesivas à coletividade e à dignidade dos outros. A falta de moralidade corrói o comportamento individual e social. Atualmente, talvez seja essa a grande chaga de nossa sociedade. O apóstolo Paulo já traçava linhas de postura ética para os cristãos de Corinto: “Tudo me é permitido, mas nem tudo é lícito. Tudo me é permitido, mas não deixarei que nada me domine” (1Cor 6, 12). Assiste-se a epidemia de irresponsabilidade, má fé, prevalência da vaidade, egoísmo, desonestidade intelectual e descompromisso com a verdade e a pátria. A luta é para fazer valer os interesses de alguns e de certas ideologias, em vários planos e instituições.
Todos devem assumir o compromisso da moralidade. Só assim poder-se-á corrigir um ponto muito frágil no contexto cultural brasileiro. Há uma perda do sentido de respeito, de limite e de consideração do direito de outrem. A irritação e o desânimo de muitos cidadãos revelam esse estado de coisas. Percebe-se, ainda, um crescente desleixo pelo cumprimento dos próprios deveres. As consequências são notórias: irresponsabilidade, descaso, desarmonia e convulsão social. A vivência da cidadania só pode ganhar novos horizontes, quando são assimiladas regras éticas. A norma moral é imprescindível. É também incontestável a importância de valores espirituais (cristãos e outros), que convocam os seres humanos a praticar o bem e a evitar o mal. Deus sedimenta esse parâmetro na consciência humana. Por isso, deve-se priorizar um sentimento religioso na formação da personalidade. Ele é um remédio indispensável no enfrentamento da delinquência, que contamina os rumos da sociedade, oficializa dinâmicas perversas e deixa assorear as fontes culturais. E mais: não consegue trilhar um caminho que leve a avanços, pois não há garantia de qualificada participação cidadã e proteção à vida. Por isso, os cenários de uma sociedade esgarçada, imoral e desmoralizada são de grande desorganização e ineficiência. O caos se expande justamente porque, mesmo reconhecendo que há situações a serem corrigidas, apresenta-se o impasse, como aplicar a justiça e abrir caminhos para os reparos necessários. Diante de tal situação prevalece o pessimismo, que se manifesta em uma crença muito comum: ceticismo em geral e não há saídas promissoras para as crises que se multiplicam. Convém lembrar a Bíblia: “A integridade dos justos os guiará, mas a falsidade dos ímpios os destruirá” (Prov. 11, 3).
Os diversos segmentos de nossa sociedade, além de discursos polêmicos, necessitam articular posicionamentos alicerçados na ética, valor escasso no Brasil de hoje. Mas, a grande mudança necessária em todo o contexto social não pode prescindir primeiramente da reformulação interior de cada pessoa. Aqui é importante a participação das igrejas e religiões. Devem acompanhar e orientar a consciência do ser humano e não jogar mais lenha na fogueira social. Um inadiável desafio para todos consiste em investir na ética e moralização. Mas, não o moralismo, ou seja, um mecanismo que apenas cria uma imagem pública ilusória, diferente do que efetivamente se fala e realiza.
O desafio é grande, pois exige o compromisso de todos nas diferentes tarefas cotidianas. Os sistemas educativos e governamentais, as práticas religiosas e as instâncias capazes de interferir na assimilação de valores precisam de atenção e reconhecimento. Isto é fundamental para se alcançar a meta comum de configurar novo tecido cultural. Efetiva-se, assim, um processo capaz de garantir a moralização necessária à sociedade brasileira, conduzindo-a rumo a novos caminhos. Deve-se ter em mente o que aconselha o Livro dos Provérbios: “Quem anda na integridade, está tranquilo, mas quem segue veredas tortuosas, será descoberto” (Prov 10, 9).