A Christie’s está a ser pressionada para cancelar a venda das jóias da colecção de Heidi Horten. As peças foram compradas pelo marido, um alemão que construiu um império no retalho, em grande medida a partir de grandes armazéns e outros bens comprados a judeus que fugiam da perseguição nazi.
A leiloeira diz que as jóias foram todas compradas a partir do início dos anos 70 até ao ano passado, quando Heidi Horten morreu. Mas o rabino Abraham Cooper, do Centro Simon Wiesenthal, considera que a leiloeira não fez o que podia fazer.
“Em primeiro lugar, se a Christie’s quer fazer o que está certo, e deve fazê-lo, tem de suspender a venda, suspendê-la agora, antes que esteja concluída. Em segundo lugar, devem fazer um esforço – agora que vivemos no mundo das redes sociais, não deve ser assim tão difícil fazer um esforço global para tentar identificar os legítimos herdeiros destes objectos,” afirma Abraham Cooper.
O marido de Heidi Horten, Helmut, juntamente com parceiros comerciais, comprou a primeira loja, em 1936, a proprietários judeus.
Peter Hoeres, um historiador da Universidade de Würzberg, na Alemanha, escreveu um estudo encomendado por Heidi Horten sobre o império comercial do marido. De acordo com a investigação que dirigiu, Helmut Horten tornou-se membro do partido nazi em 1937e despediu alguns empregados judeus para cumprir a lei nazi. Conta que também se diz que “tentou ajudar” alguns judeus e que, por vezes, “gozou” com os líderes nazis, o que terá levado a ser expulso do partido em 1944.
“Não houve confisco. Ele comprava, mas, com certeza, lucrava. Aproveitou-se das más circunstâncias, da pressão (para venderem as suas lojas e emigrarem) sobre os proprietários judeus”, diz.
A venda desta coleção de jóias surge num momento em que o debate sobre a restituição de património está mais vivo do que nunca. A leiloeira diz que vai doar os lucros a programas de educação sobre o Holocausto.
“As actividades comerciais do Sr. Horten durante a Segunda Guerra Mundial estão bem documentadas, e isso é algo que a Christie’s considerou cuidadosamente quando apresentou esta colecção. E aceitámos esta colecção no pressuposto de que 100% das receitas da venda final reverterão para causas filantrópicas,” justifica Max Fawcett, chefe do departamento de joalharia da Christie’s, em Genebra.
A cidade suíça vai ser palco de um leilão presencial no próximo sábado, mas a venda já começou online. Prevê-se que o leilão venha a render mais de 150 milhões de euros.
Fonte: www.pt.euronews.com