A condenação de Fernandinho Beira-Mar e seus seis filhos pelo Tribunal Regional Federal de Rondônia, por organização criminosa apontada nas investigações da “Operação Epístolas” de 2017, pode acarretar ainda a perda do mandato de vereadora de Fernanda Izabel da Costa. A determinação sobre a suspensão de direitos políticos de Fernanda está na sentença sobre o processo da operação, que ainda pode sofrer recursos.
Ela é uma das filhas do traficante que figura no processo de Rondônia e, desde 2021, tem uma cadeira na Câmara Municipal de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, e que serviu de base para a condenação, “Fernanda visitava o pai para tratar de assuntos inerentes à prática de crimes. Os recados eram feitos com linguagem codificada para estabelecer comunicação com os integrantes do grupo criminoso e dificultar ações policiais e dificultar sua identificação.”
Por essas práticas foi condenada a 4 anos e 10 meses de reclusão em regime semiaberto.
A sentença do caso determina, depois que o processo transitar em julgado, que “se oficie à Justiça Eleitoral para fins do disposto no artigo 15, inciso III, da Constituição Federal, que fala em suspensão dos direitos políticos dos condenados enquanto durarem os efeitos da condenação”.
Fernanda negou todas as acusações, mas segundo a decisão judicial o MPF conseguiu provas de sua relação com o esquema montado por Beira-Mar, o que levou à condenação.
Ao todo, 35 pessoas foram condenadas pelo Tribunal Regional Federal de Rondônia por conta da “Operação Epístolas”. A condenção é em primeiro grau e cabe recurso.
O g1 tenta contato com Fernanda.
Bilhetes apreendidos pela polícia durante a Operação Epístolas, que investiga a quadrilha de Fernandinho Beira Mar.
Outros condenados
A “Operação Epístola”, da Polícia Federal, mostrou que mesmo isolado em uma penitenciária de segurança máxima, em Rondônia, Beira-Mar continuava comandando o tráfico de drogas em 13 comunidades de Duque de Caxias, e ainda diversificou a sua atuação com a venda de gás, internet, caça-níqueis, cigarros e bebidas nas favelas de Caxias.
As ordens nos negócios criminosos eram transmitidas por meio de recados, transmitidos a parentes durante visitas, ou por bilhetes repassados para um detento da cela ao lado.
Pelo crime, Beira-Mar foi condenado a mais 14 anos, 2 meses e 20 dias de reclusão. Elejá tem 320 anos de prisão por crimes como tráfico de drogas, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e homicídios.
A Justiça Federal condenou Fernanda e outros cinco filhos do traficante por atuarem na transmissão de recados e envolvimentos em outros crimes. São eles:
- Luan Medeiros da Costa – Segundo a Justiça, atuou em todas as atividades da organização criminosa e tem amplo conhecimento dos negócios do escusos do pai. Ele teria se aproveitado das visitas na Penitenciária Federal de Porto Velho, para tratar de assuntos inerentes aos mais diversos crimes, especialmente tráfico interestadual e internacional de drogas. Condenado a 5 anos e 5 meses de reclusão em regime semiaberto.
- Felipe Alexandre da Costa – As investigações mostraram que ele também atuava em todos os negócios de Beira-Mar. Já foi condenado por lavagem de dinheiro, em uma investigação em Curitiba. Condenado a 6 anos, 1 mês e 10 dias de reclusão em regime fechado.
- Taiuã Vinícius da Costa – A Justiça o apontou como um dos conselheiros da organização criminosa, com atuação no tráfico internacional de drogas e importante atuação na administração de bens de Fernandinho Beira-Mar. Condenado a 5 anos e 8 meses de reclusão em regime semiaberto.
- Ryan Guilherme Lira da Costa – A investigação aponta que ele utilizava linguagem codificada para estabelecer comunicação com os integrantes do grupo criminoso com objetivo de dificultar ações policiais, e usava codinome, a fim de dificultar sua identificação. Aproveitou-se das visitas sociais para tratar de assuntos inerentes à prática de crimes. Condenado a 4 anos e 10 meses de reclusão em regime semiaberto.
- Gabriela Figueiredo Ângelo da Costa – A Justiça apurou que Fernandinho Beira-Mar adotou Gabriela para que, como filha socioafetiva, tivesse direito à visitas, e assim levar e receber “bilhetes” com conteúdo criminoso, inclusive relacionados ao tráfico internacional de drogas. Ela também era responsável pela movimentação de valores/pagamentos, fiscalização de atividades relacionadas à digitação de bilhetes e recebimento e repasse de informações para diversos membros da organização criminosa. Condenada a 4 anos, 8 meses e 20 dias de reclusão em regime semiaberto.
PF prende irmã e cinco filhos de Fernandinho Beira-Mar
Irmã e ex-mulher também foram condenadas
A irmã de Beira-Mar, Alessandra da Costa, que é advogada, também foi condenada por atuar na lavagem de dinheiro e, inclusive, segundo a Justiça, enriquecer com as transações ilícitas.
“A acusada, da família, é uma das que tem melhores condições financeiras, chegando a afirmar que ‘o que desejava, seu irmão lhe dava’, porque, segundo ela, ele é milionário”, diz trecho da condenção.
Alessandra foi condenada a 7 anos e 4 meses de reclusão em regime semiaberto.
Já Jacqueline Moraes da Costa, ex-mulher de Beira-Mar, teve uma pena mais branda por ter feito acordo de colaboração com delação premiada. Assim, mesmo com condenações por tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro, Jacqueline foi condenada a 3 anos e 9 meses de reclusão em regime aberto.
‘Operação Epístolas’
Em maio de 2017, investigações da Polícia Federal apontaram que um esquema criminoso era mantido com a atuação de parentes de Fernandinho Beira-Mar.
Na época, a Polícia Federal cumpriu mandados de prisão em cinco estados e no Distrito Federal.
Em condenações, o traficante acumula penas que somam quase 320 anos de prisão em crimes como tráfico de drogas, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e homicídios.