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Queremos Minas de volta

Modelo Artigos 2.jpg - Foto: Ilustração/O Tempo

“Um trem de ferro é uma coisa mecânica,/ mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,/ atravessou minha vida,/ virou só sentimento”.

(Adélia Prado)

Minas Gerais sempre nos orgulhou. Terra de rica cultura, de um povo amável, de uma culinária primorosa, de artes encantadoras, do jeito mineiro cativante. Da doçura do povo, dos doces, do queijo e suas iguarias. Minas Gerais dá água na boca e aquece o coração. De um lugar tão bom, não poderia ser permitido saírem figuras icônicas que representam parte desse povo, mas em nada se assemelham ao que o mineiro tem de bom. O carisma, o amor, o bem-querer do mineiro não combina com ódio, preconceito, truculência, mediocridade, pequenez.

Minas é grande e precisa de representantes que espelhem a sua grandeza. Figuras tacanhas, controversas, esdrúxulas, odiosas e intolerantes não combinam com o nosso Estado, que quis o destino trágico, terra de grandes políticos, fosse viver um período nebuloso de lideranças que nos envergonham pela sua tão inadequada insensatez, o que destoa da grandeza desse povo e desse lugar.

Sequestraram a beleza, a subjetividade e a essência do mineiro, e é por isso que tem sido difícil e vergonhoso ocupar esse título, algo que sempre enchemos a boca pra falar. “Sou mineiro, sô, sim, senhô”. Porém, não temos gostado de ser. Parece que perdeu um pouco a graça, o romantismo, a inspiração.

Diz Adélia Prado que, de vez em quando, Deus tira dela a poesia, olha pedra e vê pedra mesmo. Assim estamos nós. Céticos, imobilizados, às vezes extasiados, vendo somente a pedra, sem conseguir enxergar qualquer beleza ou sentido no que tem acontecido quando Minas aparece no noticiário.

Não gostamos de ser mineiros quando vemos uma parte reacionária do Estado eleger e idolatrar políticos com discursos preconceituosos e criminosos. Não gostamos nem um pouco de saber que Minas Gerais é o Estado com mais violência contra a mulher no Brasil. Coincidentemente, também é um Estado com baixa participação feminina na política, algo que também não nos agrada. Um Estado onde as mulheres ainda não são tão protagonistas quanto mereceriam e deveriam não faz nosso gosto.

Dói saber que Minas padece. Não podemos aceitar que nossas Minas sejam tão reduzidas à mediocridade de quem temporariamente mal representa nosso Estado. Queremos nossas Minas de volta ao centro relevante do debate e da história do país. Queremos o orgulho e a alegria de se dizer mineiro também, porque temos achado difícil ser mineiro nos últimos tempos, estamos órfãos de líderes à altura de nos representar. Queremos, mais que tudo, ver boa vontade, competência, integridade e ética nos nossos representantes.

“Não quero faca nem queijo, quero a fome”, Adélia Prado. Minas tem fome e sede de mudança, de justiça, de progresso, de gente que a faz merecedora da grandeza que é. Assinam dois mineiros apaixonados pelo nosso Estado.

Fonte: o tempo