Diante do fortalecimento da candidatura bolsonarista na reta final, o Palácio do Planalto entrou em campopara conter traições nas fileiras de partidos aliados. A presença no plenário de ministros que se afastaram do Executivo para tomar posse como senadores e votar em Pacheco fez a diferença.
Com a reeleição de Pacheco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contará com um aliado para fazer avançar a pauta governista no Senado, com destaque para propostas na área econômica, como a reforma tributária prometida pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda).
O mineiro já havia colaborado durante a transição de governo, em dezembro de 2022, para aprovar a PEC (proposta de emenda à Constituição) fura-teto, que não só garantiu o Auxílio Brasil de R$ 600 por mais um ano como encorpou o orçamento do Executivo em 2023 em mais de R$ 100 bilhões.
Marinho, por sua vez, tende a “perder ganhando”. Ao receber 32 votos para a presidência do Senado poucas horas depois de tomar posse para seu 1º mandato na Casa, o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) se fortalece como um líder natural da oposição a Lula no Congresso e da direita como um todo.
Atentos a esse cenário, petistas dizem que eleição para a Mesa Diretora e governabilidade são assuntos diferentes. Torcem para que o fim do clima de eleição leve a uma reaglutinação em torno de Pacheco, que pode fazer a ponte de senadores oposicionistas com o Planalto –leia-se: orçamento de ministérios.
Uma das maiores preocupações dos governistas é com a possibilidade de Marinho usar seu estoque de votos para articular a criação de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) que causem desgaste para Lula.
A CAMPANHA
Como a eleição à presidência da Câmara estava virtualmente decidida em favor de Arthur Lira (PP-AL), a disputa no Senado extrapolou a Praça dos Três Poderes e tornou-se alvo de uma mobilização digital de bolsonaristas contra a recondução de Pacheco. A campanha virtual irritou senadores dos mais variados partidos.
Não à toa, os discursos dos principais concorrentes lembravam a polarização na eleição à Presidência da República em 2022: Pacheco falou muito sobre a “defesa da democracia” e Marinho, em retomar “a independência entre os poderes”.
O mote do senador potiguar foi o de enquadrar o STF (Supremo Tribunal Federal) por meio do “diálogo”. Aglutinou colegas que avaliam que a Corte, principalmente na figura do ministro Alexandre de Moraes, tem extrapolado suas prerrogativas em decisões nos últimos anos
Durante a campanha, Pacheco e Marinho adotaram estratégias diferentes. Até a última semana antes da eleição, o candidato incumbente preferiu “jogar parado”. Confiou no trabalho pregresso e entregou a articulação ao aliado Davi Alcolumbre(União Brasil-AP).
Já o ex-ministro de Bolsonaro aproveitou o recesso do Congresso, iniciado em dezembro, para visitar senadores em seus Estados. Não saiu da ponte aérea. Em meados de janeiro, já havia pedido voto a mais de 60 pares.
Além do discurso em defesa das prerrogativas de congressistas ante o Supremo, Marinho surfou na insatisfação com o protagonismo de Davi Alcolumbre. Proveu solo fértil às queixas sobre atropelos na negociação de espaços na mesa e nas comissões. Fez ombro amigo aos ressentimentos.
- Pacheco e Marinho apostaram em apoios públicos na reta final
- Almoço pró-Pacheco teve ministros e senador que declarou voto em Marinho
- Governo agiu para conter crescimento de Marinho no Senado
- Disputa por cargos no Senado contrapôs aliados de Pacheco
- PSB e PSD aumentaram bancadas às vésperas da eleição no Senado
- Pacheco confiou articulação a Alcolumbre e dividiu senadores
- Senadores se irritaram com campanha bolsonarista pró-Marinho
- Marinho disse que, se eleito, desengavetaria maioridade penal e PL do agrotóxico
VOTO SECRETO?
Na véspera da disputa, ambos os candidatos apostaram em declarações públicas de apoio a suas campanhas.
Um almoço em apoio à reeleição de Pacheco contou com a presença dos ministros Camilo Santana (Educação), Renan Filho (Transportes) –senadores eleitos que tomarão posse nesta 4ª pelo PT e pelo MDB, respectivamente, e votarão na eleição à presidência– e Alexandre Silveira (Minas e Energia).
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que dias antes ainda exercia mandato de senador pelo PT, também apareceu.
Além de Santana e Renan Filho, os ministros Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública), do PSB, e Wellington Dias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), do PT, também deixaram o Executivo por alguns dias para tomar posse no Senado e garantir votos para Pacheco.
O ministro Carlos Fávaro (Agricultura) é senador pelo PSD em meio de mandato e não precisaria ter comparecido à cerimônia de posse, mas foi mais um a afastar-se do ministério para votar no colega de partido para o comando do Senado.
Além disso, 7 dos 10 senadores do MDB fizeram ato em apoio a Pacheco na 3ª. Todos os 4 integrantes da recém-encorpada bancada do PSB assinaram carta respaldando o candidato à reeleição.
Marinho, por sua vez, assegurou declarações de voto de Sergio Moro (União Brasil-PR) e de 3 dissidentes do PSD: Lucas Barreto (AP), Nelsinho Trad(MS) e Samuel Araújo (RO) –este último também estava no almoço pró-Pacheco na 3ª.
Também recebeu nos últimos dias o apoio de Izalci Lucas (PSDB-DF) e Marcos do Val (Podemos-ES).
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, apostou alto na campanha de Marinho a costurou um bloco no Senado com o PP do senador Ciro Nogueira (PI) e o Republicanos do deputado Marcos Pereira (SP).
Com a 2ª maior bancada, com 13 integrantes, o PL tem a faca e o queijo na mão para liderar a oposição e manter a bandeira bolsonarista hasteada no Senado.
Fonte: poder 360