Padre João Medeiros Filho
Artigos especializados apontam o estresse como um dos grandes males atuais. Pessoas adoecem, sofrem, podendo ir a óbito, em consequência dessa morbidade. Isso leva parte da população ao uso de ansiolíticos, pois tal estado psíquico também causa depressão. Abordam-se suas diversas causas, dentre elas, o comportamento alheio e o ambiente de tensão, como sendo motivos da irritação e de descontrole interno e externo. Estudiosos indicam ainda a impontualidade como um de seus fatores.
Muitos brasileiros, quando visitam outros países pela primeira vez, especialmente europeus e asiáticos, surpreendem-se com os hábitos de seus habitantes. Ser pontual, por exemplo, é uma condição inseparável e normativa no seu cotidiano. Coincidentemente, são países que possuem indicadores sociais elevados. No Brasil, terra tão pródiga de belezas e riquezas naturais, essa característica parece ser escassa no DNA de seu povo. Não é verificada com frequência. E não está à venda, tampouco encontrada em forma de medicamento. Sendo assim, este predicado deve ser despertado na infância. No entanto, como o fazer, se os próprios pais, por vezes, são carentes dessa qualidade? Requer disciplina do comportamento humano. E enquanto não for incutida nas famílias brasileiras, continuar-se-á sofrendo com a predominância de cidadãos desprovidos de pontualidade e, consequentemente, do respeito ao tempo dos outros.
O termo compromisso vem do particípio passado do verbo latino “compromittere”, que significa prometer, garantir. Portanto, compromisso é a garantia de uma palavra dada. Do ponto de vista semântico, o descompromisso é sua negação ou desabono. Não se refere apenas às pessoas isoladamente, mas também à sociedade. Os impontuais perdem credibilidade, no tocante à observância de horário. Realmente, poucas pessoas costumam chegar antes da hora aprazada. É comum usar gerúndios e expressões, como: “estou chegando, indo, saindo, estou no trânsito” etc. São termos imprecisos para tentar justificar a impontualidade. Indubitavelmente, encontram-se praticantes e defensores por todos os lados, de diferentes idades e camadas sociais. Em casa, é frequente ter pessoas que não se dispõem a realizar as tarefas de sua competência ou responsabilidade. Em vão, procrastinam e prometem que o farão mais tarde. Crianças e jovens caminham na mesma direção. Parece que seu tempo livre é ilimitado diante das telinhas dos aparelhos eletrônicos, brincando ou trocando mensagens com os amigos, também descompromissados. Em geral, ficam assistindo filmes, quando deveriam fazer os deveres escolares. Ao crescerem, talvez não assumam suas responsabilidades. E, muitas vezes, os pais se questionam: “Onde foi que erramos?” Eis algumas características da geração atual. Lembra-nos o Livro do Eclesiastes (ou Coélet): “Tudo tem o seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu” (Ecl 3, 1).
Fora de casa, o descompromisso também grassa como uma erva daninha. Não é raro encontrar profissionais autônomos ou prestadores de serviços, que deixam as pessoas desassistidas. “Dão cano”, como se diz na gíria. Quantos já não sofreram ou sofrem com a impontualidade irresponsável? Fazem um trato, sabendo que não conseguirão cumprir. Porém, cabe eximir os profissionais, cuja natureza de suas atividades acaba interferindo em seus horários e não logram êxito em atender na hora marcada. No entanto, vários compensam essa lacuna com dedicação e eficiência em seu atendimento. É preciso ter em mente que a impontualidade, além de desrespeito ao tempo de outrem, gera transtornos em cascata. “A impontualidade é uma das manifestações do egoísmo”, dizia o escritor Orígenes Lessa. Mas, existem muitos brasileiros, modelos de pontualidade, como o Cardeal Eugênio Sales, que nunca se atrasava nas suas aulas, eventos ou cerimônias.
Na vida pública, um exemplo negativo é o de autoridades que, ignorando o tempo dos outros, costumam chegar atrasadas nas solenidades. E o fazem, às vezes, por conveniência. Equivocadamente, para certas pessoas, não observar horários é demonstração de status e poder. Dão a impressão de que são donos do tempo do próximo. É necessário mudar esse hábito, transmitindo e consolidando a cultura da pontualidade. Já aconselhava o apóstolo Paulo: “Tudo, porém, seja feito como convém, na hora certa e em boa ordem” (1Cor 14, 40).