Padre João Medeiros Filho
Tem-se verificado descrédito das instituições brasileiras de referência. A poucos dias da propaganda eleitoral, aspirando-se cargos eletivos, é o momento de refletir sobre o augúrio de novos tempos. “É necessário o renascer do espírito” (Jo 3, 5), dissera Cristo a Nicodemos sobre a premência de mudança de mentalidade no seu tempo. A nossa pátria clama por renovação. Urge buscar respostas capazes de libertar as instituições do marasmo persistente. Seu funcionamento mostra-se pesado financeira e moralmente, apresentando resultados pífios. Isto provém de sucessivas crises que se abatem sobre a nossa sociedade, criando cenários de inaptidão e incapacidade. São preocupantes a falácia e a falta de intuição ou lucidez para alcançar metas inovadoras e respostas eficazes. Interesses partidários e grupais falam mais alto.
Parece ser isto o que importa no mundo político atual. Nega-se o passado despudoradamente. As ofensas de ontem são rapidamente reduzidas a cinzas. Minimizam-se e engolem-se diferenças ideológicas brutais, deixando-se de lado os princípios éticos. O que conta é chegar ao poder. O projeto de muitos é somente galgar posições de relevância, mesmo despreparados para tal missão. Para atingir objetivos escusos vale mentir, trapacear e abandonar o povo com seus problemas e anseios, desrespeitar cidadãos, tirar proveito da coisa pública e viver de benesses. O ex-senador Afonso Arinos dizia que “o mais triste de nossa política é a escassez de patriotismo dos falsos líderes.”
Constata-se o enfraquecimento de nossas entidades, causado por fatores diversos. Dentre eles, destacam-se a lassidão e abulia dos parlamentos diante da problemática social, o desacerto na escolha de nossos representantes nos poderes. Inexistem vontade de decidir e coragem para tirar dos ombros do povo o peso abusivo dos privilégios de tantos, oferecendo-se em troca migalhas sociais para anestesiar e iludir multidões. O funcionamento de muitas instituições ainda está pautado em esquemas que tolhem a renovação. Ressoam ideias e discursos requentados. Perpetuam-se conveniências, velhos hábitos e erros. Burocratizam-se insensibilidades e morosidades nos procedimentos para responder às necessidades da população. Há uma manemolência nas posturas governamentais, sobretudo no atendimento às
imperiosas demandas de saúde, educação, segurança e infraestrutura. Ninguém tem humildade para fazer o “mea culpa” sobre a qualidade das posturas oficiais. Há aqueles que não admitem análises objetivas e isentas. Tenta-se abafar a crítica e o sentimento do povo com a propaganda institucional maquiada e enganosa. Ególatras necessitam ser incensados.
O país vai ficando estagnado, em razão de governanças e representatividades inexpressivas. Assim, não consegue intuir a renovação e encontrar o rumo das mudanças. O preço que se paga é alto. Vive-se um clima de degradação ética e social, traduzido pelo radicalismo, má fé e arrogância de tantos. Há os que pensam apenas em destruir. Em função das mudanças impostergáveis é impreterível a escolha de pessoas idôneas, abnegadas, desveladas de vícios políticos cristalizados. Nenhuma entidade fará muito sem o contributo de cidadãos generosos, honestos, audaciosos e capazes de conceber transformações inadiáveis. Mister se faz o surgimento de lideranças propositivas e inovadoras, cônscias da importância de suas raízes e tradições. Existe carência de pessoas que possam gerir processos adequados. Tal
atribuição requer maturidade cívica, altruísmo e equilíbrio emocional. Sem isso é quase impossível formatar decisões próprias, agir com ética, sem temor de oposições levianas. O Papa Leão XIII afirmava: “ser político é essencialmente uma vocação para o serviço à comunidade e não uma profissão.”
É tempo da nação brasileira avaliar e definir novos rumos, em busca da evolução social. Mas, não se pode concretizá-la com dinâmicas impróprias, instrumentos ultrapassados e a
primazia de interesses meramente ideológicos ou partidários. É hora de encontrar novas lideranças. Sim, novas pela isenção de desvios nos funcionamentos institucionais e pela audácia de inovações. Deverão ter a leitura objetiva da realidade, o gosto de governar para o povo – e não simplesmente para os partidos políticos – a fim de beneficiar o quadro socioeconômico. Assim, poder-se-á consolidar uma sociedade renovada, bem como uma cultura de maior alcance e bem-estar. Jesus foi claro, objetivo e contundente: “Não se deve pôr remendo de pano novo em roupa velha” (Lc 5, 39).