NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO

No dia 08 de dezembro de 1854, na Basílica de São Pedro, o bem-aventurado Papa Pio IX proclamou o dogma da Imaculada Conceição de Maria, pela Bula “Ineffabilis Deus”. De acordo com a doutrina católica, acreditamos que Ela foi isenta de todo pecado, desde o primeiro átimo de sua existência até o último momento de sua vida terrena. Assim é venerada, como o templo sacrossanto e ilibado, no qual Deus fez a sua morada.
A devoção à Imaculada Conceição brotou cedo no solo fecundo da piedade popular. O Ofício de Nossa Senhora é uma prova do amor dos fiéis Àquela que é nossa Mãe, oferta de Cristo, no alto da cruz. Antes mesmo de ser definida pela Igreja, a verdade teológica já era vivida pela fé dos católicos e pela sensibilidade daqueles que percebem a ação terna de Deus. Várias cidades do Rio Grande do Norte têm Nossa Senhora da Conceição como orago. Na arquidiocese de Natal, dezesseis paróquias estão sob a sua proteção. No bispado de Caicó, Ela é padroeira de duas e na diocese de Santa Luzia de Mossoró, titular de oito.
Maria é expressão da benevolência de Deus. Na sua bondade e ternura, especialmente na graça divina da qual estava repleta, temos a certeza de que o Pai não nos abandona à própria sorte. Ela é afirmação de que Deus acredita em nós e não se arrependeu de ter criado o ser humano. O arcanjo Gabriel, quando anunciou que Ela seria a Mãe do Salvador, disse-Lhe: “Alegra-te, cheia de graça” (Lc 1, 28). Isto significa que estava toda envolta da graça sobrenatural. Consagrando-se totalmente a Deus, Nossa Senhora foi tomada pelo mistério divino. E isto levou os teólogos a concluir que o pecado não havia tocado a sua alma. “Cheia de Graça”, toda pura, foi esta a Mulher que Deus escolheu para ser o sacrário corporal e terreno de seu Filho. E Ele não iria unir a Segunda Pessoa da Trindade – de forma infinita e perene pelo mistério da Encarnação – à maldade e à rejeição do projeto divino, ou seja, ao pecado. Deste modo, surge a abordagem teológico-dogmática da Conceição Imaculada de Maria.
Segundo o Cardeal Yves Congar, teólogo dominicano francês, “Maria Santíssima é a reconciliação de Deus com o ser humano, sem desmerecer, no entanto, o papel de Cristo como Redentor”. O Pai criou o homem, na integridade da beleza e na plenitude da bondade. Mas, a inveja, a vaidade e o orgulho desfiguraram-no. Em Maria Santíssima, Ele retomou a criação plasmada com tanto carinho, nos primórdios do universo e da história. Por esta razão, o apóstolo Paulo e a teologia subsequente chamam Nossa Senhora de “Nova Eva”, isto é, a nova mulher, portadora da Vida. Nela a humanidade foi recriada. Deus se fez homem como nós. “E o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Assim, entendemos a celebração da Festa da Imaculada Conceição, no tempo do Advento, perto do Natal do Senhor, quando se comemora o mistério da Encarnação do Filho de Deus. Maria foi escolhida para ser a Mãe do Redentor e a portadora da Salvação. Ela viveu da Eucaristia e para a Eucaristia, quando carregou Cristo, a Hóstia Viva, dentro de si. Com toda razão, o Papa São João Paulo II a definiu, em uma de suas encíclicas (“Ecclesia de Eucharistia”), como a “Mulher Eucarística e primeiro sacrário da humanidade”. O Corpo de Cristo presente na hóstia consagrada é também carne de Maria. A divindade latente no sacramento do altar habitou o seio da Virgem. Por isso, este tabernáculo vivo – Maria Santíssima – é eternamente puro e sagrado.
Ao celebrar a festa da Imaculada Conceição, a Igreja convida-nos a refletir sobre nossa origem e nosso destino. Exemplar da humanidade perfeita, Maria recorda-nos o que seria o ser humano, não fora sua rebeldia contra Deus. Ela é a beleza divina presente na terra. Riqueza celestial temporizada. Maravilha infinita acessível aos mortais. Ternura sagrada estendida aos pecadores. Suprema misericórdia do Altíssimo revelada aos pequenos e imperfeitos. “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós!”

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