Padre João Medeiros Filho
Segundo a tradição católica, Ana era a mãe de Maria Santíssima. Nos evangelhos não constam informações a esse respeito. Os nomes de Ana e Joaquim são citados em escritos apócrifos, dentre eles, o Protoevangelho de São Tiago, datado de 150 d.C. Parece ser este o documento mais antigo a mencionar os genitores da Virgem Mãe de Deus. Apesar de receber pouca atenção da Igreja ocidental até o final do século XII, no Oriente, a devoção a Sant´Ana remonta ao século VI. A partir de então, é reverenciada nas igrejas orientais e duas de suas grandes festas lhe foram dedicadas.
Nas denominações evangélicas históricas, especialmente entre os luteranos, Ana também é venerada. Conta-se que Lutero ingressou na vida religiosa, como frade agostiniano, após pedir a sua proteção numa noite de tempestade. Por tal razão, em alguns países europeus, invoca-se a Mãe da Virgem de Nazaré como protetoracontra os relâmpagos. A esposa de Joaquim também é reverenciada no Islã. Seu nome não é citado no Alcorão. Entretanto, é reconhecida como uma mulher altamente espiritual e Mãe de Maria. Segundo as narrativas islâmicas, Hannah não tinha filhos, até a idade avançada. Um dia, sentada sob uma árvore, viu um pássaro alimentaros filhotes e sentiu o desejo de ser mãe. Suplicou ao Altíssimo e engravidou, dando à luz uma menina a quem atribuiu o nome de Miriam.
Sant’Ana tem sido muito cultuada pelos cristãos. Na igreja oriental, sua devoção aparece por volta do ano 550, quando Justiniano mandou construir em Constantinopla um templo em sua homenagem. Em 1584, o Papa Gregório XIII fixou o dia 26 de julho para sua festa litúrgica. Em 1879, Leão XIII a estendeu para toda a Igreja. No Ocidente, a primeira representação pictórica, atestando sua veneração, é um afresco do século VIII, exposto na igreja de Santa Maria Antiqua, em Roma. As imagens e ícones de Sant´Ana mostram-na (em pé ou sentada) com as tábuas da lei, abraçada a Maria Santíssima. Isto é simbólico, deseja mostrá-la como mestra da Palavra divina, exemplo a ser seguido pelos seusdevotos.
Seu culto expandiu-se pelo mundo inteiro. Santuários, catedrais, capelas, cidades e províncias lhe são dedicados. Destaca-se como padroeira da Bretanha, de Quebec e Düren (Alemanha). No Brasil, é titular de dezessete catedrais, co-padroeira das arquidioceses de São Paulo e do Rio de Janeiro. Cabe lembrar que é também a protetora de Goiás. No Rio Grande do Norte, é padroeira da diocese seridoense e de três paróquias (em Caicó, Currais Novos e Santana do Seridó). No bispado de Mossoró, é orago de Luís Gomes e Campo Grande. Na arquidiocese natalense, é venerada como titular das matrizes de São José de Mipibu, Santana do Matos, Capim Macio e Soledade II.Fato digno de nota é o seguinte: a freguesia de Jucurutu,ao ser criada, teve o seu território desmembrado de três jurisdições paroquiais dedicadas a Sant´Ana (Caicó, Campo Grande e Santana do Matos).
A devoção a Sant´Ana difundiu-se de tal modo que a Igreja lhe reserva o título de “Senhora”, que só fora concedido a sua filha. Assim, entende-se porque muitos católicos passaram a chamá-la de “Nossa Senhora Sant’Ana”. É patrona da Casa da Moeda do Brasil, por designação de Dom João VI. Exímia gestora e financista,dividia o salário do esposo em três partes: uma para a manutenção da família, outra para o culto e a terceira para ajudar os pobres. Suas relíquias são veneradas em vários lugares. Merecem destaque aquelas da catedral de Apt (perto de Avignon, na França), onde, segundo alguns pesquisadores, encontram-se seus restos mortais. Narra-se que, durante os séculos XII e XIII, os cruzados e peregrinos, ao retornarem do Oriente, trouxeram-nas até aquela cidade da antiga Gália.
Em Emaús (Parnamirim), há um mosteiro consagradoa Sant´Ana, local de adoração eucarística. Dom Nivaldo quis ressaltar o exemplo de Ana, a qual preparou Maria para ser o “primeiro sacrário da humanidade”. Desejavaque ela também educasse os corações dos fiéis para setornarem tabernáculos vivos de Cristo. “Salve, Sant’Ana gloriosa, nosso amparo e nossa luz”, cantam fervorosos os seridoenses.