A pré-campanha de Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) está oficialmente na rua. O lançamento da chapa com um evento na cidade de São Paulo, neste sábado 7, consolidou uma aliança que nasceu sob a desconfiança de alguns setores do próprio PT, mas que ganhou corpo e se tornou possível graças à articulação de petistas e pessebistas como Fernando Haddad e Márcio França.
Alckmin, diagnosticado com Covid-19, não participou presencialmente da cerimônia, mas discursou ao vivo por videoconferência. Entre alguns jornalistas presentes no Expo Center Norte, na zona norte da capital paulista, havia alguma dúvida sobre a reação dos mais de quatro mil convidados ao ex-tucano. Mas o pronunciamento de Alckmin representou uma das ondas mais enfáticas de aplausos.
Entre os trechos do discurso que mais agradaram aos presentes estiveram sua promessa de ser “um parceiro leal” a Lula e o de “estarmos juntos, apoiando e defendendo o seu governo, até que o seu trabalho tenha sido completamente realizado”.
A chapa PT/PSB nasce com o endosso de Solidariedade, PSOL e Rede, além do PCdoB e do PV, partidos com os quais o PT compõe uma federação. Políticos que participaram do lançamento da pré-candidatura foram unânimes ao defender a aliança entre dois antigos adversários – disputaram, por exemplo as eleições presidenciais de 2006, vencidas por Lula.
O pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PSB, o deputado Marcelo Freixo, disse a CartaCapital que a eleição deste ano não é em nada semelhante à de 2002, que marcou o primeiro triunfo de Lula. Agora, diz o parlamentar, “o futuro está ameaçado”.
“A gente precisa ter uma capacidade de dialogar com todos os setores comprometidos com a democracia”, afirmou Freixo ao exaltar a composição com Alckmin. “É um momento importante, a consolidação de uma maturidade política. A gente precisa dialogar amplamente com a sociedade, fazer uma frente democrática. Esta é a eleição mais importante da nossa vida. Se a Constituição de 1988 vai valer ou não, se as universidades estarão abertas, se teremos ciência e tecnologia, se teremos saúde público, se a escola pública vai sobreviver, se teremos cultura.”
Correligionário de Freixo, o advogado Augusto de Arruda Botelho – pré-candidato a deputado federal em São Paulo – destacou, além da chapa com Alckmin, a série de vitórias judiciais de Lula na esteira das irregularidades praticadas pela Lava Jato.
“A Lava Jato foi uma operação de cunho pessoal, político. Hoje, sabemos que jamais foi apenas sobre o combate à corrupção. Foi, sim, um plano pessoal de poder, eleitoral, e um dos focos foi o ex-presidente Lula.”
No PT, o discurso também é de defesa intransigente da composição com Alckmin. O senador Jean Paul Prates(RN), avaliou que o País “está ladeira abaixo e, para recuperar a democracia e os conceitos mínimos de respeito às instituições, precisamos nos unir”.
Já a deputada Maria do Rosário (RS) afirmou que Lula, à esquerda, e Alckmin, ao centro, expressam concepções diferentes na economia, “mas posições sobre democracia que se articulam neste momento”.
Mesmo em conversas reservadas, petistas não se manifestaram contra a chapa.
O pronunciamento de Lula
Os únicos discursos políticos proferidos no evento partiram de Alckmin e de Lula. Antes, o Hino Nacional ficou a cargo de Tereza Cristina. Também houve espaço para a apresentação do jingle da campanha, uma releitura do famoso tema da eleição de 1989.
O tom do pronunciamento de Lula e dos recursos multimídia utilizados no evento foi o de reforço da polarização com Jair Bolsonaro (PL). Uma das peças exibidas no telão fazia referência ao ex-capitão e a desastres de seu governo, como o desemprego, o descaso com a saúde pública e as mais de 664 mil mortes por Covid. Na outra metade da tela, apareciam aspectos ligados a Lula, como desenvolvimento da educação e comida no prato.
O discurso de Lula foi escrito previamente. Não é comum ver o ex-presidente recorrer a folhas de papel em um evento deste porte, mas a avaliação é de que, do ponto de vista jurídico, seria a saída mais simples para evitar possíveis denúncias de adversários por campanha antecipada. O lado negativo para o PT é que o pronunciamento lido tirou parte do ímpeto do público.
Em alguns momentos, Lula fugiu do script. Ele foi aplaudido ao se dirigir à ex-presidenta Dilma Rousseff, no palco da cerimônia.
Disse Lula: “Companheira Dilma, tem muita gente que, na perspectiva de criar confusão entre nós dois, fala assim para mim: ‘Você vai levar a Dilma para o ministério? Você vai levar o Zé Dirceu para o ministério?’ Nem eu vou levar e jamais a Dilma caberia em um ministério, porque a Dilma tem a grandeza de ter sido a primeira mulher a ser presidente da história deste País”.
Os aplausos decorreram da menção à “grandeza”, mas não é inédita a indicação de que Dilma não comporia um novo governo como ministra. No início de abril, em entrevista a uma rádio do Paraná, Lula declarou que a ex-presidenta “pode ajudar de forma extraordinária porque ela tem uma experiência extraordinária”. Ressaltou, porém, que não se sentiria à vontade para “mandar” em uma pessoa que já ocupou o Palácio do Planalto.
Neste sábado, o ex-presidente sinalizou especialmente a mulheres, aos povos indígenas, aos jovens e à população LGBTQIA+. Em um breve aceno dirigido especificamente ao eleitorado evangélico, Lula afirmou que Bolsonaro “pode até se dizer cristão, mas não tem amor ao próximo”.
A plateia era composta por representantes de centrais sindicais, do movimento negro, de agricultores familiares, do movimento de luta por moradia, de organizações feministas e de coletivos de advogados e juristas.
Ao final da cerimônia, ainda ao som da versão repaginada de Lula lá, o público deixou o Expo Center Norte e lidou com buzinas e gritos de apoio ao petista e com provocações de alguns (poucos) bolsonaristas que passavam em frente ao local. A pré-campanha começou.
Assista à reportagem em vídeo sobre o lançamento da chapa Lula/Alckmin:
Fonte: Carta capital