Padre João Medeiros Filho
Hoje, data natalícia de Dom Nivaldo Monte (ocorridahá 104 anos), Monsenhor Lucas Batista Neto lançará o projeto da Capela da Medalha Milagrosa e do Portal da Saudade (cinerário). Estes serão edificados na Casa da Criança (Avenida Rui Barbosa, nº 241), onde ele preside os atos religiosos. A atual capela é pequena e ocupa dependências do educandário que deveriam ser destinadasàs atividades pedagógicas. Atualmente, a frequência à missa dominical naquele lugar sagrado vem crescendoconsideravelmente, contando com cerca de trezentos participantes. Estes se reúnem em locais adaptados para as celebrações litúrgicas. A população no entorno daquela instituição de ensino tem aumentado, nas últimas décadas. A matriz da paróquia se queda distante para muitos, máxime as pessoas idosas.
O dedicado Monsenhor Lucas deseja celebrar no próximo ano os seus oitenta anos de vida, deixando mais um legado para a comunidade natalense, à qual serve com desvelo há mais de cinquenta anos. Para ela, o ilustre presbítero tem sido um irmão e pastor, “plangendo com os que choram, sorrindo com os que se alegram.” (Rm 12, 15). Naquele educandário, também celebrou tantas vezes o Padre Orígenes Monte, irmão de Dom Nivaldo e por ele ordenado. Ao completar oito décadas, o estimadomonsenhor não deseja receber presentes para si. Pretende dotar a comunidade de uma capela simples e acolhedora.
Para cobrir parte das despesas com a construção da Capela da Medalha Milagrosa, Monsenhor Lucas lançará mão de um recurso de grande significado para os cristãos potiguares. Trata-se da construção de um cinerário (Portalda Saudade), de acordo com as diretrizes eclesiásticas, com a finalidade de guardar as cinzas dos falecidos que optaram pela cremação. Trata-se de local apropriado, obedecendo às normas canônicas, emanadas da Congregação da Doutrina da Fé. Estas estão contidas na Instrução “Ad ressurgendum cum Christo” (Para ressuscitar com Cristo), datada de 15 de agosto de 2016. A cremação dos corpos para os católicos foi autorizada pelo Papa Paulo VI, desde 1963 e ratificada pelo Cânon 1176 do Código de Direito Canônico (1983) e Catecismo da Igreja Católica, nº 2301 (1999).
É do conhecimento de muitos que Dom Eugênio de Araújo Sales, ao tomar posse da Arquidiocese do Rio de Janeiro, para dar continuidade às obras e fazer face aos gastos com a edificação da nova Catedral de São Sebastião, sugeriu ao Monsenhor Ivo Calliari a construção de um ossuário, onde os fiéis pudessem inumar os restos mortais de seus familiares num local digno e seguro. Monsenhor Ivo foi um dos seminaristas trazidos de Santa Catarina por Dom Jaime Câmara para ajudá-lo na organização da diocese de Mossoró. No Ossuário da Catedral do RJ, há missas semanais pelos que ali jazem, bem como em dias festivos: Finados, Domingo das Mães e dos Pais etc.
Inspirado nesse gesto pastoral, Monsenhor Lucas deseja que as cinzas dos cristãos cremados possam ter o destino previsto nas determinações pontifícias, “devendoser colocadas em lugar santo e digno.” O documento da Congregação da Doutrina Cristã é claro: a) desautorizar a colocação das cinzas dos cremados sobre o mar, rios, lagoas, jardins e plantas. Argumenta aquele órgão do Vaticano que não se costuma jogar desse modo os ossos dos entes queridos. Por que agir assim com as cinzas? b) reprovar o uso delas em adereços e jóias, tais como:pulseiras, pingentes, anéis etc. Isso estava se tornando corriqueiro na Europa, disseminando-se em outros continentes. Nestes casos, as cinzas são manipuladas como um objeto qualquer; c) por fim, a Igreja não permiteguardá-las nas residências. Elas deverão ser conservadas em lugares sacros: igrejas, capelas, santuários ou em cemitérios e outros espaços construídos para tal fim. Convém recordar as palavras do profeta Isaías: “Os teus mortos reviverão e os meus traspassados ressuscitarão.” (Is 26, 19).
Monsenhor Lucas está ultimando os procedimentos canônicos, jurídicos e administrativos, inclusive o regulamento para acesso e uso do cinerário. Cabe-nos louvar e agradecer mais esse empreendimento como um serviço religioso e pastoral à disposição dos fiéis, que amiúde têm dúvidas sobre como agir diante de talsituação. Monsenhor Lucas vive cotidianamente as palavras do Salmista: “Senhor, o zelo de tua casa me devora.” (Sl 69/68, 10).