O bom nome é uma riqueza

Padre João Medeiros Filho

Quando criança, ouvia dos mais idosos que um dos valores preciosos da vida é o bom nome. Não se trata depessoas famosas, que atraem milhares de seguidores. O pensamento aqui se volta para a admiração e o respeito que alguém conquistou ao longo da vida. Construído dia após dia, lentamente, torna-se um bem valioso. E para obter tal reconhecimento, são necessárias escolhas certas, guiadas pela busca do que é legal, ético, justo, honesto e digno. Mas não se pode negar que é também algo frágil. Que o digam as redes sociais. Em questão de minutos, o conceito de alguém pode ser manchado e destruído. Nesse tipo de mídia, a cada momento, é lançada uma avalanche de palavras, ora edificantes, ora deletérias, e não raro com incitação à agressividade e ao ódio. Observa-se que a rapidez das mensagens não possibilita a ponderação, como exercício da inteligência e da prudência na comunicação. No silêncio da leitura pode-se não escutar o outro. Assim, as redes vão se tornando, pouco a pouco, lugares de discussões inflamadas e desrespeitosas. Concebidas para unir, estão se transformando em espinheiros, ferindo os que delas se aproximam.

É possível constatar que, uma vez lançado na lama, não será fácil limpar um bom nome. É muito difundida a metáfora sobre a calúnia e difamação, comparadas a um saco de plumas jogadas ao vento, do alto de uma torre. Mesmo que, tempos depois, se consiga provar a maldade do caluniador, o dano está causado. E se o erro vier a ser reparado, a sua cicatriz não desaparece. Já recomendava o apóstolo Paulo: “Abandonem todas estas coisas: ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem indecente. Não mintam uns para os outros” (Col 3, 8-9).

Com o advento da internet, proliferou o número de mentirosos, maledicentes e detratores anônimos. Estes sãoapenas alguns termos para definir os destruidores da reputação alheia. Aproveitam toda oportunidade para menosprezar qualquer pessoa, talvez pelo simples prazer de destruí-la, por fanatismo, sectarismo ou até mesmo problemas psicológicos. Seria conveniente um estudoacurado sobre as causas de tal comportamento. Inveja? Ódio? Recalque? Frustação? Complexo de inferioridade?Sadismo? Provavelmente, um pouco disso tudo.

Não se pode ficar indiferente diante dessa realidade. O mínimo que as pessoas de bem devem fazer é evitar compartilhar mensagens inverídicas e não comprovadas,recebidas diariamente. Ou então, antes de repassá-las, verificar se expressam a verdade. A utilização inadequada de mensagens é desrespeitosa, não convence e causagrandes estragos. A Sagrada Escritura insiste sobre a necessidade de se preservar a reputação de alguém. “Não espalharás boatos, nem colaborarás com o ímpio por meio de testemunhos falsos (Ex 23, 1). Os discípulos de Jesus não podem aceitar a mentira. Ainda mais: devem rejeitar “todo dolo, hipocrisia, inveja e qualquer espécie de calúnia” (1Pd 2,1), advertia o apóstolo Pedro.

A maledicência e a calúnia destroem a honra do próximo. Todos devem gozar do direito natural à dignidade de seu nome e do respeito. E isto é cláusula pétrea, consagrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos (cf. art. XII) e nas constituições de vários países. Segundo o Evangelho e a moral cristã, a maledicência e a calúnia agridem a justiça e a caridade. É muito gravesemear o que é falso, com a intenção de prejudicar.A quem caluniar, eu calarei. Quem é soberbo no olhar e de coração enfatuado não o suportarei” (Sl 101/100, 5), diz o Senhor Deus. Na verdade é infeliz quem pensa limpar o quintal de sua casa, jogando lixo no jardim dos outros. Segundo o Mestre, a mentira e a calúnia são diabólicas. Isto está expresso no evangelho de João: “no demônio não há verdade, porque ele é mentiroso e pai de toda mentira” (Jo 8, 44). Quando alguém reconhece a dignidade de umapessoa, está a serviço do bem e da verdade. Esta tem um valor tão importante que é uma das autodefinições do próprio Cristo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!”(Jo 14, 6).

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