Padre João Medeiros Filho
Durante todo o mês de maio, homenageamos Maria Santíssima. No primeiro domingo, celebramos Nossa Senhora com a invocação de Mãe dos Homens, o mais antigo orago cristão da Virgem de Nazaré. E no segundo, festejamos nossas mães terrenas. Na primavera europeia, no mês em que as flores desabrocham, quis a Igreja comemorar a beleza da existência na pessoa de Maria e de nossas genitoras, “rosas de Deus”, na expressão de Santo Ambrósio. A Patrística greco-latina é rica em textos e comentários a respeito daquelas que nos dão a vida. Irineu, primeiro bispo de Lyon, as compara à “face terrena do Divino”. Ou, de acordo com Clemente de Alexandria, “mimo celeste na terra dos homens”. E João Crisóstomo as denomina “luz de nossos dias, sol de nossas vidas, estrelas de nossas noites e travessias”.
Mais do que justo e merecido é esse preito de gratidão, homenagem que se presta a todas as mães da terra. É importante celebrar o seu amor incondicional e doçura, carinho e compreensão, desvelo e dedicação. E nada melhor para simbolizar tais sentimentos do que a figura daquelas que nos geraram. Participantes do mistério do Criador e da clemência entre os homens, elas encarnam a benevolência divina e a benignidade sobrenatural, orientando nosso destino de criaturas, filhos do Eterno e do Infinito.
Relevem-nos por não conseguir descrever exatamente o quanto elas são especiais. Dotadas de sensores supersensíveis, não raro, chegam a captar o que não foi dito. Têm um olhar mais penetrante do que as sondas ultrassonográficas de última geração. Mapeiam o coração de seus filhos e rastreiam marcas de dor e sofrimento, “apenas ouvindo o seu timbre de voz. Seu toque mede a temperatura de nossa alma”, segundo palavras de nosso amigo padre Gleiber Dantas. Por isso, ultrapassam qualquer ciência, pois são divinas. O próprio Cristo, tendo dispensado os bens terrenos, não se privou do colo materno e do sorriso meigo daquela que Ele nos legou também para conceder a sua bênção. Eis aí o Teu Filho. Eis aí a Tua Mãe (Jo 19, 27), dissera Jesus, no patíbulo da cruz, antes de dar a sua vida pela nossa salvação. Deus sabia que um coração materno pode expressar, de forma perfeita, sua ternura. Assim, o saudoso Papa João Paulo I, iluminado pelo Espírito Santo, afirmara diante da multidão na Praça de São Pedro: “Deus é Mãe”. E há séculos, o bispo e teólogo Cipriano de Cartago, inspirado no profeta Isaías (Is 49, 15), já se referia a Maria Santíssima como “rosto temporal de Deus”.
É esse lado sobrenatural de nossas mães que se pretende proclamar no segundo domingo de maio. É a tradução da meiguice de Deus num ser humano, que nesse dia é celebrado, homenageando quem nos gerou. A grandeza do Criador tornou-se então acessível a todas as criaturas. Sua infinita munificência, capacidade de amar e perdoar se encarnaram numa representação terrena. O Pai celeste quis nos legar um sacramento universal de seu amor e de seu afeto. Por isso, concretizou o seu plano no coração materno.
A celebração do segundo domingo de maio – apenas para destacar um entre todos os dias do ano – é o memorial da sublimidade da vida. Lembrança da suprema beleza eterna, que Deus-Mãe reserva para os seus filhos. Não poderia deixar de existir no calendário uma data, que fosse a consciência explícita de nosso reconhecimento por um ser, que participa do mistério da bondade suprema. As mitologias greco-romanas e orientais apresentam deusas-mães. O cristianismo dá-nos uma Mãe celestial e a terrena a fim de nos acompanhar em todos os momentos e dimensões de nossa caminhada. Mãe é Amor. E Deus o é totalmente, define o evangelista João em uma de suas Cartas (1Jo 4, 8). Rezemos para que Maria venha cobrir com o seu manto sagrado todas aquelas que nos transmitiram o dom da vida e as abençoe. Ela é como uma centelha no coração daquelas que recebem a dádiva eterna, a ternura incomensurável de nosso Deus presente na face da terra!