O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), diz que a flexibilização no Amazonas promovida pelo governador Wilson Lima (PSC) tem acontecido de maneira excessivamente veloz e lhe causa preocupação. Nesta sexta (5), Lima afirmou que vai ampliar os horários de abertura de lojas em geral, shoppings centers e restaurantes.
“Minhas atribuições municipais continuam sob os decretos. Parques, balneários, áreas comuns, continuamos fechando. Não vejo da forma que está sendo vista pelo estado. Flexibilização muito grande. Estamos abrindo, avançado na flexibiliação, mas não concordo com a flexibilização que está sendo feita. Muito ampla. Precisa ser feita, mas não de forma tão ampla”, diz Almeida ao Painel.
Com taxa de ocupação de leitos de UTI exclusivas para Covid-19 em 88% e cem pacientes ainda na fila por uma vaga nos hospitais públicos, a capital do Amazonas viveu colapso em janeiro, com falta de oxigênio para pacientes.
Almeida afirma que o governo do estado tem promovido as aberturas rapidamente por pressão do comércio local, que tem tido resultados catastróficos.
A conta feita pelo governo do estado, acredita o prefeito, é a de que 74% das pessoas que morreram na cidade até o momento tinham mais de 60 anos.
Como a cidade já iniciou a vacinação de quem tem 65 anos e prevê completar a vacinação de todos os sexagenários na semana que vem, Lima decidiu liberar o comércio, avalia Almeida.
No entanto, diz, caso faltem vacinas acontecerão novas ondas pandêmicas na cidade.
“Sem vacina eu temo por terceira, quarta, quinta onda. Porque não tem controle da nova variante, não”, inicia.
“Esperem o pior. Esperem o que vocês nunca viram. Uma pessoa que ficava dez dias internada agora fica 30. A variante tem muito mais contágio, é muito mais forte, mais resistente ao tratamento. As pessoas ficam mais tempo em UTI, a UTI não tem rotatividade de leito e represa toda a demanda. As pessoas ficam em corredores, macas e ambulâncias”.
Almeida diz que vê com preocupação “o filme de Manaus” ter início em outros estados.
“Se não fechar tudo, vão passar pelos mesmos problemas de Manaus”, afirma. “O que aconteceu em Manaus vai acontecer no Brasil se as regras de distanciamento não forem respeitadas. O restante do Brasil só não vai faltar oxigênio. Aqui faltou oxigênio por causa da nossa distância dos outros locais”.
“Só tem um tratamento: distanciamento social. Se tem tratamento precoce é o isolamento. Vejo com muita preocupação a situação do restante do país. Espero que não aconteça o que aconteceu em Manaus, que foi muito muito por desobediência ao distanciamento, pouco uso de máscara. As pessoas só vão sentir na pele quando estiverem com alguém próximo precisando de atendimento e não conseguir. Estamos aprendendo pela dor.”
Nesta quinta (4), 14 pessoas foram sepultadas, vítimas de Covid-19. Foi o menor número dos últimos 65 dias, diz o prefeito.
“Ainda ontem faleceu o arcebispo emérito, hoje faleceu um apóstolo de uma igreja. As pessoas ainda estão morrendo. Com o avançar da vacinação a tendência é chegar a uma normalidade nos próximos meses caso tenhamos vacina”, conclui.
Folha de São Paulo.