Para a maioria dos brasileiros (61%) o encerramento da produção de veículos da Ford no Brasil é “ruim” para o país, mostra pesquisa PoderData. Outros 26% acham que é algo “indiferente”, sem impacto. Só 6% defendem que a decisão da multinacional norte-americana é “boa”.
A pesquisa foi realizada pelo PoderData, divisão de estudos estatísticos do Poder360. A divulgação do levantamento é feita em parceria editorial com o Grupo Bandeirantes.
Os dados foram coletados de 18 a 20 de janeiro, por meio de ligações para celulares e telefones fixos. Foram 2.500 entrevistas em 544 municípios, nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. Saiba mais sobre a metodologia lendo este texto.
Para chegar a 2.500 entrevistas que preencham proporcionalmente (conforme aparecem na sociedade) os grupos por sexo, idade, renda, escolaridade e localização geográfica, o PoderData faz dezenas de milhares de telefonemas. Muitas vezes, mais de 100 mil ligações até que sejam encontrados os entrevistados que representem de forma fiel o conjunto da população.
A Ford foi uma das pioneiras na produção de automóveis no Brasil. Em 1919, passou a fabricar no país o Modelo T. Mantinha fábricas em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e em Horizonte (CE). A companhia anunciou o encerramento das atividades em 11 de janeiro. Em justificativa, disse que a pandemia de covid-19 ampliou “a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”.
De acordo com a companhia, o fim da produção no país será gradual, ao longo de 2021, e deve comprometer cerca de 5.000 empregos.
O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), ainda tentou negociar a saída da empresa do país. Já o governador da Bahia, Rui Costa (PT), governador da Bahia, não pretende convencer a montadora a permanecer no Estado e iniciou contatos com as embaixadas da China, do Japão, da Índia e da Coreia do Sul para substituir a multinacional americana. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), lamentou a decisão.
O Ministério da Economia considera que a decisão da Ford “destoa da forte recuperação observada na maioria dos setores da indústria no país”. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o caso mostra a “falta de credibilidade do governo brasileiro”.
Apesar de pôr fim à produção no país, a sede administrativa da Ford para a América do Sul e o campo de provas permanecerão em São Paulo. Também será mantido o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia.
De acordo com a fabricante de veículos, a empresa continua comprometida com os consumidores no Brasil com a nova picape Ranger, a Transit e outros modelos, trazidos da Argentina e de outros países. Há planos também de lançar automóveis elétricos, também importados.
A Ford afirmou que vai manter as vendas, a assistência total ao consumidor, os serviços, a comercialização de peças de reposição e a garantia para seus clientes no Brasil e na América do Sul.
Quem mais acha que a saída é ruim:
- homens (69%);
- pessoas de 16 a 24 anos (65%);
- moradores da região Sul (73%);
- os que têm ensino superior (76%);
- os que recebem mais de 10 salários mínimos (88%).
Quem mais acha que é indiferente:
- mulheres (29%);
- pessoas de 45 a 59 anos;
- moradores da região Norte (41%);
- os que têm só o ensino médio (30%);
- os sem renda fixa (30%).
Quem mais acha que a decisão é boa:
- pessoas de 16 a 24 anos (9%);
- moradores da região Sudeste (9%);
- os que têm apenas o ensino fundamental (8%);
- os que recebem de 5 a 10 salários mínimos (13%).
SAÍDA DA FORD X BOLSONARO
Após a multinacional anunciar o fim da produção no Brasil, Bolsonaro disse que a fabricante pretendia “renovar subsídios para fazer carros para vender”, o que, segundo ele, seria inviável no país.
“Mas o que a Ford quer? Faltou a Ford dizer a verdade, né? Querem subsídios. Querem que a gente continue dando R$ 20 bilhões para eles como fizeram nos últimos anos? Dinheiro de vocês, impostos de vocês para fabricar carro aqui? Não. Perdeu a concorrência, lamento”, disse Bolsonaro.
O presidente lamentou os 5.000 empregos que serão perdidos por causa da decisão da Ford. “Lamento os 5.000 empregos perdidos. Agora a imprensa não fala que, em novembro, criamos 414 mil empregos, então perdemos 5.000 agora, repito, lamento”, disse.
Pesquisa PoderData mostra que entre os que rejeitam o trabalho do presidente Jair Bolsonaro (o avaliam como “ruim” ou “péssimo”), a percepção de que o encerramento da produção da Ford no Brasil é “ruim” é maior. A taxa é de 79%. Nesse mesmo grupo, só 2% acham que a decisão é “boa” para o país.
São 10% os que aprovam o chefe do Executivo (acham seu trabalho “ótimo” ou “bom”) e acham que a saída da companhia do Brasil foi “boa”. Outros 46% acharam que foi “ruim”. Para 39%, é “indiferente”.