Mensagem de Páscoa (2025)


Padre João Medeiros Filho

Vivemos num mundo confuso em relação aos valores da vida. Estamos inseridos numa sociedade atordoada, insensível ao Transcendente. Participamos de uma civilização descrente de um futuro melhor. Cabe-nos perguntar: o que falta, hoje, à Páscoa de Cristo? O que é preciso para que a Ressurreição de Jesus possa transformar e renovar o mundo e os homens? Primeiramente, é fundamental acreditar na Vida que é Cristo.

Ele venceu a morte! Sim, em meio a tantas notícias desalentadoras de violência, fome, corrupção, impunidade, violação à justiça, nós cristãos temos o dever de anunciar que Jesus veio trazer a paz. “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz” (Jo 14, 27). Para celebrar a Ressurreição de Cristo, mister se faz sentir a presença de Deus, que veio morar conosco, descendo ao nível mais ínfimo da humanidade. Ele pregou a dimensão da fraternidade.

Neste tempo de tanto ódio, desconstrução e insana polarização ideológica, fartamente disseminada pela mídia, somos chamados a proclamar que a renovação, o perdão e o amor são possíveis. Entretanto, é necessário crer nas palavras de Cristo: “Confiança, eu venci o Mundo” (Jo 16, 33).

O Brasil não merece viver de mentiras, narrativas, desonestidade e violência, e sim do verdadeiro Amor que vem de Deus. Aos que creem em Cristo, desejamos enfatizar o compromisso de construir um mundo novo, a civilização da vida e do diálogo, visando à harmonia. Como gostaríamos que a Boa Notícia fosse largamente difundida, levando todos a viver tempos novos!

Que Cristo Ressuscitado traga alívio e esperança, suscitando um renovado dinamismo nos governantes, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminando a nefasta praga da corrupção e a deletéria farsa eleitoreira. Feliz Páscoa para todos. Passagem da violência e do ódio para a paz.

Passagem da tristeza e do desespero para a alegria e esperança, das trevas para a luz. Passagem do desânimo e descrédito para a fé, inefável dom divino. Que haja Páscoa para o Brasil, passagem das inimizades para a concórdia, das contendas e conflitos partidários para a pacificação do país. O Povo precisa viver em clima de união e fraternidade.

Para tanto, é preciso vislumbrar o brilho da Luz de Cristo, presente no símbolo do Círio Pascal. “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12), disse o Mestre.

Emaús, em Parnamirim, aos 20 de abril de 2025

Quem é Judas: O Teatro da Traição

Todo ano, como um roteiro repetido de má fé, ressurge na cidade a figura do “Judas”. Um personagem criado por um ex-prefeito, que se dizia justiceiro do povo, mas que usava essa encenação para desviar o foco de suas próprias alianças e conveniências.

Mas este ano, o Judas veste Prada.

Circula elegante, polido, articulado — um verdadeiro mestre do verniz. Por trás do verniz refinado, esconde-se alguém sem escrúpulos, capaz de vender a própria mãe e ainda entregar a mercadoria, tudo em nome do poder. A família inteira já colhe os frutos da ascensão. Os bolsos transbordam, e a alegria parece infinita — como num conto de fadas à la Alice no País das Maravilhas. Os dentes, recém-colocados e afiados, estão prontos para dilacerar novas vítimas. Porque Judas não perdoa: por 30 moedas, ele beija, sorri… e trai.

Se apresenta como imaculado, acima de qualquer suspeita, mas já foi reconhecido pelas lentes mais atentas do poder como alguém disposto a trair por conveniência. O tipo de sujeito que sorri para a foto e aperta a mão enquanto afia a lâmina. Dizem que toda cidade tem o Judas que merece. Mas e quando o Judas se fantasia de salvador? E quando o criador da farsa não percebe que acabou virando personagem do próprio engodo?

A pergunta permanece: quem é, hoje, o verdadeiro Judas da cidade?