O direito de Shakespeare

Marcelo Alves Dias de Souza

Um dos “mistérios” sobre Shakespeare diz respeito ao direito. Como poderia o Bardo ter tanta intimidade com o mundo jurídico, ao ponto de retratar tão fielmente os procedimentos legais da época das suas produções teatrais? Como poderia ele, com tanta precisão, debater questões como Justiça, formalismo legal, bom-senso etc.?

Formação clássica em direito, Shakespeare não possuía. Ele foi certa vez testemunha em um caso envolvendo pessoas da sua convivência, é vero. Esse, aliás, é um dos acontecimentos mais relevantes para comprovar a existência da pessoa William Shakespeare (1564-1616). Mas isso, por óbvio, está deveras longe de fazer dele um profissional/conhecedor do direito.

Esse mistério do conhecimento jurídico do Bardo tem martelado em minha cabeça desde quando, morando em Londres, tive oportunidade de assistir a duas de suas obras: “Bem está o que bem acaba” (no National Theatre) e, sobretudo, “A Comédia dos Erros” (no Globe Theatre), peça cuja trama gira em torno da condenação à morte de um comerciante de Siracusa, apenas por violar estrita proibição legal de cruzar a fronteira entre sua cidade e Éfeso. “A Comédia” trata, então, do dilema da pena de morte, do legalismo exagerado e meandros dos procedimentos legais da época.

Esse “encafifamento” só aumentou depois que eu devorei, já no papel, as duas “peças jurídicas” de Shakespeare, assim classificadas por Daniel J. Kornstein em “Kill All the Lawyers? Shakespeare’s Legal Appeal” (University of Nebraska Press, 2005): “O Mercador de Veneza” e “Medida por Medida”. “O Mercador de Veneza”, notável “courtroom drama”, é uma crítica à vingativa visão de Justiça “olho por olho, dente por dente” e à visão formal do direito, em prol de uma Justiça de equidade, a partir de um bom-senso natural aplicado às especificações do caso. É também uma aula de direito contratual e, sobretudo, no que considero o clímax da peça, uma lição de hermenêutica inteligentemente revolucionária, embora, como sói ocorrer no bom direito, atenta à “letra da lei” e aos “exatos termos” do contrato. Já em “Medida por Medida”, onde nenhuma personagem é inteiramente boa ou má, aprendemos que “Leis para todas as faltas (…): são motivo de zombaria mais que de advertência”; e enxergamos a hipocrisia da Justiça absoluta aplicada pelos homens, uma vez que, no mundo real, de paixões e fraquezas, por não ser a medida certa, ela simplesmente não funciona. Pelo menos não no parecer do grande conhecedor da alma humana – certamente o maior de todos que, em poesia, dela tratou – que foi Shakespeare.

Há uma curiosa teoria que visa explicar essa sabença jurídica do Bardo. Segundo os autores do “Everyman’s Companion to Shakespeare” (J. M. Dent & Sons, 1978), Gareth Lloyd Evans e Barbara Lloyd Evans, existe a tese de que “Shakespeare foi assistente de advogado após deixar a escola”. Para eles, “isso, como uma defensável hipótese, não pode simplesmente ser colocada de lado. Não há prova factual, mas a evidência circunstancial é formidável: (a) durante a juventude, ele teria sido bem relacionado com os advogados de Stratford em razão dos afazeres do pai, tanto comerciais como na administração da cidade, e mesmo em litígios mais graves nos quais o volátil John Shakespeare estava envolvido, incluindo contravenções; (b) durante a vida, Shakespeare estava envolvido, como muitos do seu status social e econômico, com questões legais – em especial a compra, venda e aluguel de imóveis. Ele parece ter sido assíduo e informado nos seus negócios e tornou-se próspero; (c) suas peças são pródigas em profissionais do direito, em linguagem legal e mesmo em evidências de um bom conhecimento da ciência jurídica”.

Desconfio. Tanto quanto não gosto de teorias conspiratórias, desprecio teses mirabolantes. Prefiro acreditar que Shakespeare foi mesmo um gênio natural, autodidata, com insuperável capacidade de extrair maravilhas das suas fontes, reformulando-as nas tragédias e comédias que nos encantam até hoje. Ele lia e relia os livros que podia, sobretudo os clássicos gregos, para fins de elaboração de suas peças, assim como as reescrevia e revisava frequentemente. Ao ler e reler os clássicos, pensar e revisar as ideias de outrem e as próprias, ele se fez autodidata na apresentação literária do bom-senso e da Justiça.

Aliás, os próprios autores do “Everyman’s Companion to Shakespeare” lembram que a grande força do Bardo não estava no seu conhecimento ou bagagem cultural – isso Milton, Francis Bacon ou mesmo Ben Jonson tinham muito mais do que ele –, mas, sim, na forma poética e insuperavelmente encantadora como ele punha esse conhecimento no papel e no palco.

Isso, para o direito, que trabalha com a linguagem, é muito mais do que muito. E não se aprende em faculdade alguma.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras – ANRL

Carnaval de Parnamirim movimenta economia e ambulantes comemoram boas vendas

A segunda noite do Carnaval de Parnamirim contou com um grande público pelas ruas de Pirangi, o que ajudou a movimentar amplamente o comércio de bebidas, alimentos e brinquedos. No dia das crianças, muitas famílias compareceram para curtir a festa que começou no final da tarde. Os ambulantes comercializaram doces, salgados, refrigerantes e algodão doce que fez a festa da molecada.

Dona Maria é moradora de Parnamirim há mais de 20 anos e se cadastrou como vendedora ambulante para vender bebidas. Ela disse estar satisfeita com o movimento deste sábado. “Estou vendendo muito bem, graças a Deus.” A comerciante também elogiou o tratamento recebido pelos ambulantes depois de terem se cadastrado. “Esse ano tudo está muito melhor. Até internet privativa nós tivemos. Isso facilitou demais o nosso trabalho, eu fiz bons negócios”, disse, ao acabar de fazer uma venda utilizando a maquininha de cartão.

O ramo de atuação da senhora Clécia são os artigos infantis, como espumas e brinquedos. Ela veio de Natal e disse que vendeu bem na sexta e no sábado, principalmente no bloco kids, e que vendo a movimentação do público, está empolgada para os próximos dias de festa. Já o senhor Geraldo, morador de Monte Castelo, disse que atua há 14 anos no carnaval de Parnamirim.

“Faz muito tempo que trabalho com venda de bebidas aqui em Pirangi, mas esse ano me surpreendi demais com o movimento e com toda a organização da festa. Parece que pensaram em tudo, até nossos cartõezinhos de identificação são muito bonitos”, elogiou o material, referindo-se ao crachá entregue a todos os ambulantes cadastrados.

O Carnaval do Povo 2025 está acontecendo na praia de Pirangi do Norte, em Parnamirim, e ainda vai contar com o grande desfile das virgens na segunda-feira (3). A expectativa dos ambulantes é que as vendas melhorem ainda mais até o fim do carnaval, no dia 05/03.

Ritmo intenso e má alimentação podem trazer riscos para foliões

A nutricionista Christiane Potter recomenda programação alimentar priorizando proteínas, bons carboidratos, vegetais e gorduras de qualidade para se ter energia | Foto: Magnus Nascimento

O Carnaval é um dos momentos mais aguardados do ano, especialmente pela energia da festa contagia milhares de foliões. Os blocos, as marchinhas e os desfiles representam uma época de descontração e liberdade, mas também de excessos alimentares e consumo exagerado de bebidas alcoólicas. Embora o Carnaval seja sinônimo de alegria, o abuso de comidas gordurosas, açúcares, frituras e bebidas pode prejudicar o organismo, especialmente se as pessoas não tiverem os cuidados apropriados com sua alimentação e hidratação.

Segundo o médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), o consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em gorduras e açúcar, pode ter efeitos imediatos no corpo. “Eles podem causar desconfortos digestivos, como indigestão, refluxo e formação de gases. O estômago fica pesado, e a sensação de inchaço pode ser acompanhada por retenção de líquidos, o que resulta em um mal-estar geral”, explica. Ele ainda destaca que o álcool potencializa esses efeitos, provocando desidratação e aumentando a intensidade da ressaca no dia seguinte.

Com a alta animação durante a festa, a fadiga, a sonolência e a irritabilidade são problemas comuns que também surgem durante a festa. Durval ainda explica que a ingestão de açúcares refinados pode causar uma queda na disposição, gerando um ciclo de cansaço e mal-estar. Por isso, o presidente da ABRAN recomenda moderar no consumo de doces e garantir uma hidratação constante, intercalando o consumo de água com as bebidas alcoólicas.

Em Natal, boa parte das programações promovidas pela Prefeitura de polos como Ginásio Nélio Dias e Praça dos Gringos estão previstas com duração superior às 2h da madrugada. Para quem segue uma rotina de sono, precisará de uma adaptação. O mesmo se aplica a blocos que iniciam durante o período diurno e o folião se estende até a noite. Essa prática, apesar de momentânea, pode trazer prejuízos a curto prazo.

De acordo com Ricardo Toscano, médico nutrólogo especializado em emagrecimento e metabolismo, a privação de sono também desempenha um papel negativo no bem-estar geral dos foliões. A falta de descanso adequado interfere diretamente nas funções metabólicas do corpo e reduz a imunidade. “O estresse causado pela falta de sono pode aumentar o cortisol, o hormônio do estresse, e reduzir a leptina, que é responsável pela sensação de saciedade. Isso resulta em maior fome e compulsão alimentar, além de uma queda na imunidade”, alerta.

O ideal, segundo Ricardo, é intercalar os momentos de diversão com períodos de descanso e garantir uma alimentação equilibrada para não prejudicar o organismo. Quando isso não acontece, o nutrólogo explica que o metabolismo fica desregulado diante da falta de nutrientes adequados, prejudicando o rendimento físico e mental.

Durval Ribas complementa ainda que essa prática pode também aumentar o estresse oxidativo e a inflamação, tornando o organismo humano mais suscetível a infecções e também a dificultar o processo de recuperação pós-festa. “Para minimizar esses efeitos, além de descansar pelo menos 8h, elas têm que se hidratar muito e com frequência, consumir os antioxidantes naturais, que são frutas, verduras e vegetais”, explica o presidente da ABRAN.

Outro ponto de preocupação citado pelos nutrólogos está nas condições climáticas associadas a essa má alimentação. Segundo dados atualizados pelo Clima Tempo até a última sexta-feira (28), a previsão é que Natal alcance 30ºC até o fim das festividades de Carnaval, na quarta-feira de cinzas (5). Já em Caicó, outro grande ponto das festividades, as temperaturas podem superar os 32ºC.

Ricardo Toscano alerta que o calor intenso, causado tanto pelas temperaturas já conhecidas no Rio Grande do Norte durante o verão aliado a grande quantidade de pessoas em um espaço, pode causar efeitos adversos no organismo. “A combinação de calor, esforço físico e alimentação inadequada pode levar à desidratação, tontura, fraqueza e até desmaios. Além disso, a perda de sódio e potássio pode gerar cãibras e fraqueza muscular”, afirma.

Todos esses cenários apresentados pelos médicos são reforçados para quem já possui alguma condição pré-existente ou até mesmo histórico familiar de diabetes ou hipertensão arterial. “Toda essa combinação, desidratação, excesso de sódio, carboidratos simples em excesso, pode gerar complicações cardiovasculares graves, incluindo infarto e também o acidente vascular cerebral. A pessoa que perceber algum desses sintomas deve imediatamente buscar uma ajuda médica”, reforça Durval Ribas Filho

Como se alimentar antes da folia?

De acordo com a nutricionista clínica e funcional Christiane Potter, antes de ir as festividades, é preciso se programar na alimentação e evitar contratempos. Para isso, é recomendado uma refeição completa, priorizando proteínas, bons carboidratos, vegetais e gorduras de qualidade, que favorecem o fortalecimento da energia durante o esforço físico.

Para quem vai curtir um bloco durante a manhã, a nutricionista explica que o dia deve começar com água em jejum e shots matinais, para em seguida partir para a alimentação sólida. “Para um bom café da manhã, frutas variadas coloridas, iogurte natural, sementes como chia, sementes de abóbora e girassol, ovos, queijos magros e pão, trazem saciedade e nutrientes que irão ajudar o corpo a se recuperar”, afirma.
Já a quem sai às ruas durante o período da tarde, ela reforça que alimentos leves devem ser prioridade na hora do almoço, montando pratos com saladas frescas, proteínas magras, a exemplo de frango, peixe e ovos, e carboidratos complexos, como o arroz, macarrão integral, batata ou mandioca. Esses alimentos podem ser encontrados e preparados com facilidade, independente de onde o potiguar planeje curtir o Carnaval.

Aliado a isso, a nutricionista clínica e esportiva Virna Ferreira, destaca que pular refeições jamais deverá ser uma estratégia na folia. “Isso pode prejudicar a massa muscular e comprometer o desempenho físico. O ideal é sempre ter lanches rápidos e nutritivos entre os blocos de festa”, explica. Ela sugere opções como picolé de frutas, açaí, biscoito de polvilho e sanduíches leves para manter a energia. Barras de proteína também pode ser uma boa escolha, podendo ser guardada em bolsos ou em uma doleira.

Cuidado com a ressaca

Com o alto consumo de bebidas alcoólicas durante o período carnavalesco, Christiane Potter reforça a importância de uma hidratação constante. “É fundamental consumir água enquanto se ingere bebidas alcoólicas, especialmente durante o dia, quando a exposição ao sol é maior”, afirma. Christiane recomenda que os foliões bebam ao menos 500 ml de água por hora e aumentem a ingestão nos dias mais quentes ou em situações de maior esforço físico.

Muitos foliões, no entanto, negligenciam esse cuidado por receio de precisar ir ao banheiro com frequência e atrapalhar a folia, porém a nutricionista afirma que é preciso encontrar um meio termo para evitar impactos significativos. “Mesmo que aumente o número de idas ao banheiro, o consumo de água junto com o álcool é fundamental e indispensável durante o carnaval”, defende Christiane Potter.

Diante do alto consumo de álcool, ela chama atenção para os excessos de dosagem, em especial pelos resultados negativos ao corpo em geral. Segundo a nutricionista, existem danos sistêmicos, como fígado e coração impactados diante de sinais físicos que podem ser percebidos rapidamente, como tonturas, náuseas, mal-estar e até mesmo questões comportamentais que devem ser avaliadas.

Para minimizar esses sintomas comuns da ressaca, ela sugere o uso de suplementos específicos. “Nosso corpo responde de forma clara, e é importante ter essa auto-percepção de quando o álcool começa a trazer desconfortos. Existem shots anti-ressaca que ajudam na hepato proteção, deixando o folião mais tranquilo no dia seguinte. Mas, o mais importante é a hidratação e estar bem alimentado, pois isso torna a metabolização do álcool mais lenta”, explica.

Além da água já reforçada por Christiane para consumo antes, durante e depois da folia, Virna também recomenda outras opções para manter o corpo hidratado e não ter contratempos durante o bom proveito dos blocos. “A água de coco, sucos de frutas e chás gelados podem ser opções interessantes para manter o corpo hidratado. Além das bebidas isotônicas que são excelentes para reposição de eletrólitos”, defende.

Outro ponto ressaltado pelas nutricionistas é a importância de cuidar da alimentação no pós-Carnaval. Após os excessos, o corpo precisa de uma recuperação gradual. “É importante que o corpo seja reidratado intensivamente, e que se ingira alimentos que ajudem a restaurar o equilíbrio, como frutas, vegetais e alimentos com baixo teor de sódio”, explica Christiane. Virna complementa, sugerindo que os foliões priorizem o descanso e a prática de atividades físicas leves para recuperar a energia e reduzir os efeitos da sobrecarga alimentar.

O segredo para aproveitar o Carnaval sem sofrer com os efeitos negativos está no equilíbrio, segundo os médicos nutrólogos e as nutricionistas. Uma alimentação adequada, hidratação constante e moderação no consumo de álcool são estratégias fundamentais para manter o organismo saudável durante a festa.

Cafeterias de Natal reajustam preços e adotam estratégias para enfrentar alta

Através de ajustes no cardápio e promoções, empresários tentam equilibrar os custos com a qualidade do produto e a experiência oferecida aos consumidores | Foto: Anderson Régis

O café faz parte da rotina de muitos consumidores, que não abrem mão da bebida mesmo diante das recentes altas nos preços. Em Natal, cafeterias precisaram reajustar os valores e adotar estratégias para manter a clientela e garantir a sustentabilidade do negócio. O aumento no preço do café tem sido impulsionado por fatores climáticos, crescimento da demanda global e elevação dos custos de produção e exportação.

O jornalista Thales Vale é um dos consumidores que mantém o hábito diário de tomar café, independentemente dos reajustes. “Não deixo de ir à cafeteria, porque tem a questão do ambiente agradável para tomar um café acompanhando um bate-papo. Tomo café todos os dias, me ajuda a relaxar, a ficar atento; me considero viciado. Chego a umas dez xícaras por dia”, afirmou.

Mas para clientes como Thales, ter esse serviço e um produto de qualidade, com a alta dos preços, tornou-se um desafio maior para os empresários do segmento. O impacto dos custos levou à necessidade de repasse no preço final e à adoção de novas estratégias para manter a competitividade.

Widna Gonçalves, que há nove anos comanda a Letra A – Cafeteria e Tabacaria, próximo à Praça Pedro Velho, em Petrópolis, conseguiu manter o preço do café expresso estável por dois anos, mas precisou rever essa política. “Agora vai ficar um pouco inviável, devido à alta do preço do café com os fornecedores. A maioria dos meus cafés vem de Minas Gerais e aí, além da matéria-prima, vêm os impostos, ICMS, frete, que é altíssimo. Acabei de fazer um pedido pelo dobro do valor do que eu geralmente compro”, explicou.

A empresária ressaltou que os reajustes serão de até 20% para diferentes tipos de café, incluindo o expresso. Para minimizar impactos e manter o público fiel, a cafeteria adotou mudanças no cardápio e criou promoções voltadas para o público jovem. “Eu acho que a tendência é ou permanecer nos valores atuais do café no país ou subir mais. Não prevejo que venha a reduzir, porque tem um cenário de seca que atingiu grande parte das regiões produtoras”, acrescentou.

A percepção de aumento no preço do café é confirmada pelos dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). Em Natal, a partir de setembro de 2024, a sequência de altas tornou o café em pó um dos itens da cesta básica com maior reajuste. Na comparação de dezembro de 2024 com o mesmo mês do ano anterior, a alta acumulada chegou a 49,01%.

Com 35 anos de funcionamento na Cidade Alta, a cafeteria “Avenida Café” também precisou reajustar os preços. “A gente percebe que diminui um pouco o movimento, mas temos uma clientela fiel. Reajustamos o preço do café em cerca de 15%”, afirmou a proprietária, Mônica Viana. Ela destacou que a diversidade do cardápio contribui para reduzir os impactos do encarecimento do café. “O café é um produto que atrai os clientes e aí eu tenho um mix de outros produtos, e isso ajuda a enfrentar a crise do preço do café sem prejuízos”, explicou.

Essa estratégia também é adotada pela empresária Maria Lúcia Medeiros, do Via Café, em Petrópolis. “Temos um cardápio variado. Além do café, servimos frutas, sucos, café da manhã, lanches e isso ajudou a evitar o prejuízo. A gente segurou o preço por um tempo, mas tivemos que fazer um reajuste em cerca de 15%, tipo R$ 1 no café expresso. Não foi muito, justamente para não perder a clientela”, frisou.

A empresária diz que, mesmo assim, ainda está arcando com o custo do aumento no preço do café, porque esse reajuste no cardápio não compensou. A matéria-prima que ela usa é um grão gourmet vindo diretamente do Sul de Minas Gerais. Lúcia diz que seu preço subiu cerca de 65% em relação ao início de 2024. “Essa crise do preço tem sido gritante, nunca tinha passado por uma assim. Acho que o governo federal poderia fazer algo para reduzir os custos, diminuir impostos, para estimular os produtores e baixar os preços”, avaliou.

Previsões

A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) confirmou que a tendência de alta deve se manter pelos próximos meses, pelo menos até a colheita da nova safra, que ocorre entre abril e maio. Segundo a entidade, os preços foram impactados por eventos climáticos, como a restrição hídrica e as altas temperaturas que prejudicaram a produtividade das lavouras. Além disso, o aumento do consumo global e a entrada da China como um novo mercado consumidor aqueceram a demanda.

A primeira estimativa da safra brasileira de café para 2025, divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apontou para uma produção total de 51,8 milhões de sacas de café beneficiado, o que representa uma redução de 4,4% em relação à safra anterior.

Em 2024, o Brasil registrou um recorde na exportação de café, enviando 50,5 milhões de sacas ao mercado internacional, um crescimento de 28,8% em relação ao ano anterior. Esse aumento expressivo na exportação, aliado à valorização do dólar, resultou em estoques internos reduzidos e preços mais altos para o consumidor final.

Widna Gonçalves, que comanda uma cafeteria em Petrópolis, diz que reajustes serão de até 20% | Foto: Anderson Régis

Reduzir custos e investir na experiência do cliente

Diante da alta nos preços do café, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/RN) tem auxiliado os empreendedores do setor de alimentação fora do lar a adotarem estratégias para minimizar os impactos financeiros e manter a competitividade. A percepção é de que a combinação de planejamento financeiro, diversificação de produtos e investimento na fidelização do cliente pode ser a chave para superar este momento de desafios.

Por meio da comunidade “Expresso Hub”, produtores, torrefadores, cafeterias, baristas, consumidores e instituições ligadas ao segmento do café se reunem mensalmente com o Sebrae e a questão da alta nos preços do grão tem sido um dos temas centrais das discussões. De acordo com Maria Luíza Moura, gestora de alimentação fora do lar do Sebrae/RN, em janeiro já se debateu sobre precificação para cafeterias. “Essa questão do aumento dos preços já era algo que vinha acontecendo desde o final do ano passado”, explicou.

A necessidade de reajustar os preços nos cardápios foi inevitável diante do aumento significativo dos custos. Para minimizar o impacto e manter a atratividade do negócio, o Sebrae tem incentivado estratégias que agreguem valor ao produto, investindo na experiência do cliente. Entre as recomendações está a criação de combos promocionais e temáticos, com nomes criativos e imagens que despertem o interesse do consumidor.

Além disso, as chamadas “collabs”, parcerias entre cafeterias e outros estabelecimentos, como salões de beleza e barbearias, têm sido apontadas como alternativas para ampliar a clientela. “A troca de experiência com eventos voltados para o cliente final dentro das cafeterias, encontros temáticos e até a realização de happy hour são estratégias para proporcionar uma experiência diferenciada e atrativa”, destacou Maria Luíza.

Outra alternativa sugerida tem sido a compra coletiva de insumos, o que permite uma redução nos custos, mesmo para cafeterias que trabalham com diferentes tipos de cafés, como os especiais, gourmets e tradicionais. A aquisição direta de produtores locais ainda não é uma solução viável em larga escala para as cafeterias de Natal. Segundo Maria Luíza, apesar da produção existente no Rio Grande do Norte, como o café de Jaçanã, o volume não é suficiente para atender à demanda dos estabelecimentos da capital. “Ele não tem vazão para atender todas as cafeterias, então ele mesmo faz a própria distribuição e venda do café que produz. Já existem algumas parcerias, mas não são volumosas ainda”, esclareceu.

O Sebrae também oferece consultorias voltadas para a eficiência do negócio, incluindo precificação, fichas técnicas, marketing digital, estratégias de comunicação e redução de desperdícios no ambiente de preparo. O foco é minimizar custos operacionais para que o repasse ao consumidor final seja o menor possível. “É muito mais interessante e assertivo que as empresas façam essa redução de custos para precificar melhor e manter uma margem interessante para o negócio, ao mesmo tempo em que se preocupam com a experiência do cliente”, reforçou.

Cláudio Oliveira
Tribuna do Norte

Carnaval de Parnamirim: primeira noite de festas surpreende com organização e segurança

O primeiro dia de festa do Carnaval do Povo 2025 surpreendeu quem veio a Pirangi em diversos aspectos como segurança, organização, respeito às mulheres e número de foliões. Mesmo com a abertura da festa acontecendo em uma sexta-feira chuvosa (dia útil e depois da grande maioria das pessoas ter trabalhado normalmente), muita gente veio a Pirangi para curtir os shows de Raí Saia Rodada, Pagode do Coxa, Banda Soanata e diversas atrações locais.

Um batalhão de agentes de segurança de forças estaduais e municipais se fez presente e garantiu a tranquilidade do público. Segundo informações do Complexo Administrativo de Segurança, não foram registradas ocorrências que comprometessem o evento nem que manchassem a imagem de uma festa muito tranquila e segura.

A folia aconteceu no palco da Praça São Sebastião, em um pranchão e em dois trios elétricos, contemplando diferentes públicos por toda a extensão do percurso e demonstrando toda a organização que a população merece. O evento foi preparado para coibir situações de assédio e desrespeito às mulheres. A Patrulha Maria da Penha fez abordagens aos foliões e distribuiu material educativo, enfatizando que, durante todos os dias de evento, qualquer pessoa que presenciar situações suspeitas de assédio tem o dever de denunciar o agressor. A festa contou com toda uma estrutura à disposição das mulheres, com apoio total da Polícia Militar e da Guarda Municipal.

O Carnaval de Parnamirim 2025 continua neste sábado (1°) com toda a estrutura já conhecida à disposição do folião. A programação começa às 16h com Mara Dias no trio e Renan Cruz no palco fazendo o Carnaval Kids: um show todo especial voltado às crianças e famílias como um todo.