Com o período natalino, a rotina de muitos profissionais ganha um novo ritmo, impulsionada pela alta demanda por serviços personalizados, seja no comércio tradicional, de rua ou até mesmo para quem toca o próprio negócio em casa. Pode ser na personalização de presentes, produção de cestas, confecção de roupas temáticas, decoração para eventos, ensaios fotográficos temáticos e doces decorados, que despontam como alternativas lucrativas no período que tradicionalmente é marcado por uma economia aquecida. É neste período que empreendedores lucram até 30% a mais em comparação com o restante do ano.
Há 18 anos, Hilton Lopo sai do “Polo Norte”, veste o traje vermelho e branco e assume o papel do personagem mais amado do Natal no maior shopping de Natal, o Midway Mall. “Eu sou ator, sou do sindicato dos atores do Rio Grande do Norte e vivo disso. O ano inteiro eu trabalho com teatro, eventos, e agora no Natal a gente aproveita para ganhar um extra, como Papai Noel. Às vezes a gente aproveita para ter uma renda até 30% maior do que tem normalmente no ano”, explica.
A rotina intensa de dezembro é compensada pela troca de energia com as crianças, diz. “São muitas horas de trabalho, mas a energia e o carinho das crianças alimentam. A criança tem uma energia incrível, um abraço vale umas três latinhas de energético e isso faz com que a gente não esmoreça”. Para ele, mais do que uma oportunidade de aumentar os ganhos, o papel de Papai Noel é uma experiência transformadora. “Além de ser um período para ter uma renda extra, a gente acaba sendo um momento muito especial”, conta.
Sem o traje tradicional de Papai Noel, Hilton atua em peças teatrais e projetos culturais ao longo do ano. “Eu trabalho com teatro, eventos, claro que tem períodos que você intensifica mais no trabalho, tem períodos que tem pouca demanda. Graças a lei Paulo Gustavo, a lei Aldir Blanc, deu um respiro para a gente, eu conclui agora uma curta-metragem no interior, em Pendências, a gente tem projeto com teatro infantil aprovado. Por isso, mesmo a importância desse extra no Natal”, complementa.
Para a doceira Fernanda Amaral, da Doce Estilo, o Natal é um período de alta demanda, com um aumento de até 20% nos lucros, especialmente pelos biscoitos amanteigados decorados que ela personaliza com temas natalinos. “No lugar de você dar um cartão, você dar um presente de um biscoito carimbado com o desenho de Natal, uma árvore, um papai noel, uma rena, eu entendo que é um gesto de carinho, uma dando uma mostra de que você parou para pensar naquela pessoa”, diz.
Fernanda desenvolveu um catálogo repleto de opções, que vão de pequenos biscoitos com embalagens simples a cestas elaboradas que incluem brownies e pipocas gourmet. “Nossos biscoitos acompanham uma tag com alguma mensagem, pode colocar o nome da pessoa, de quem está dando ou de quem está recebendo e tem diversas embalagens, tem várias opções, de cinco, oito, dez centímetros, depende do formato que você quer, temos até com pote de vidro porque algumas pessoas querem algo mais elaborado”, afirma.
Os clientes corporativos também são parte importante da clientela. “Os biscoitos também podem ir com a logomarca da empresa, tem essa possibilidade fazer os carimbos dos biscoitos com a logomarca ou com uma frase especial”, conta. Sem uma loja física, Fernanda organiza a produção exclusivamente por encomendas e já percebe o aumento no volume de pedidos. “Não tenho loja física. Já começaram a sair as encomendas porque já começaram as confraternizações. A gente estima um aumento de 15 a 20%, que é uma margem bem importante”.
Inspiração para novos negócios
Há também quem se inspire no espírito natalino para tirar a ideia da cabeça e montar um novo negócio. Voltada para a confeitaria festiva, Érika Oliveira, sócia da Canela, viu no Natal uma excelente oportunidade para abrir o próprio empreendimento. “A época de Natal foi uma grande inspiração para a concepção e lançamento desse pequeno negócio, pelo aquecimento natural do comércio, mas muito por ser um período em que vemos nos filmes e propagandas aqueles momentos de confraternização, a árvore com muitos presentes, que é a experiência que guia a criação dos nossos produtos”, diz.
A empresa, especializada na produção de biscoitos, pães e bolos para presentear, segue o conceito de personalização com laços e cartões, apostando na experiência do cliente. “O movimento que vemos dos clientes é interessante. Muitos se presenteiam, mas outros encomendam para dar a alguém que gosta ou para o mais próximo do dia de Natal, para dividir com a família e amigos depois da ceia”, explica a empresária.
Planejamento é fundamental para ampliar oportunidades
O final de ano representa uma das épocas mais férteis para os empreendedores que sabem aproveitar o aquecimento natural da economia. Para Thales Medeiros, gerente da Agência Sebrae Natal, o planejamento adequado é fundamental para maximizar as oportunidades oferecidas por este período. “As datas comemorativas são sempre um excelente momento para qualquer negócio, mas o final de ano, em especial, traz um conjunto de fatores que tornam esse período ainda mais promissor”, afirma Thales.
Entre as estratégias mais eficazes para destacar um produto ou serviço no mercado natalino, ele destaca a crescente valorização da experiência do cliente. “Personalizar produtos, como biscoitos com nomes ou mensagens, ou até investir em embalagens diferenciadas, pode agregar um valor significativo. O que pode ser um simples presente de R$ 15 passa a ter um preço mais alto, como R$ 30, devido à forma como é apresentado”, diz Thales.
Ele explica que, além das tradicionais festas de Natal, as confraternizações de fim de ano, as trocas de presentes e até eventos específicos, como a Festa de Santana, ajudam a movimentar uma série de setores. “A renda disponível aumenta, principalmente por causa do 13º salário, e isso gera uma disposição maior dos consumidores para investir. Desde presentes até experiências de compra, como jantares e buffets, tudo se aquece”, observa.
Para Thales, a chave para o sucesso no final de ano está na disposição do empreendedor de investir e inovar, ajustando seus produtos e serviços às demandas sazonais. “Este é o momento ideal para quem já tem um negócio testar novas opções. É o caso de quem, por exemplo, costuma fazer marmitas e decide oferecer ceias natalinas, ou até de quem, trabalhando com bar, passa a montar quiosques em festas e confraternizações”, destaca.
Período é marcado pela diversidade de produtos e serviços
A fotógrafa Mari Correia viu no Natal uma chance de expandir a atuação além da sua especialidade: ensaios com gestantes e bebês. Hoje, as sessões natalinas representam não só um importante incremento financeiro que chega a 30%, mas também um momento de conexão emocional com seus clientes. “É no Natal que a gente consegue fazer esse ‘plus’ na renda. As sessões natalinas vem crescendo a cada ano, as famílias vem entendendo a importância de ter o registro da sessão de Natal”, diz.
A preparação para os ensaios começa muito antes do mês de dezembro. Mari investe tempo e recursos para criar cenários. “Me programo todos os anos para viajar para São Paulo, buscar referências lá também, comprar os adornos, os acessórios porque tem mais variedade e eu gosto de fazer esse burburinho com os clientes. Em julho eu já começo a falar sobre o Natal, a preparar, mas não começo a vender, depois, em setembro, eu já abro a lista VIP, depois a pré-venda”, destaca.
Nos últimos anos, a procura de empresas também cresceu. “Recentemente, principalmente nesse ano, tem crescido bastante a procura corporativa, as empresas estão querendo fazer fotos e também fazer conteúdos de final de ano, tem crescido bastante essa procura da parte empresarial para fazer o material de final de ano desejando o ano novo, agradecendo o ano que passou, estão também usando os cenários para fazer as campanhas”.
Além das oportunidades de diversificação, Thales também enfatiza a importância do marketing digital. “Muitos empreendedores ainda não exploram ao máximo as ferramentas digitais, como o Instagram. Utilizar um post patrocinado ou criar campanhas direcionadas pode expandir o alcance, não apenas localmente, mas para outras regiões”, sugere.
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