É estranho, quase bizarro, o tempo que estamos vivendo. Uma sociedade dividida com o fortalecimento da ultradireita, que se constrói e se mantém com uma prática de ódio e de preconceito, faz com que mesmo as questões mais simples possam causar algum constrangimento. E, às vezes, é difícil entender os motivos que levam as pessoas a serem intransigentes e irascíveis. Todo cuidado tende a ser pouco quando a intenção não é aumentar o fosso. É claro que faz parte também do nosso lado nos posicionarmos contra as manifestações que beiram, ocasionalmente, a teratologia.
De repente, enquanto Caetano canta “Sozinho”, do Peninha, esse meu amigo me diz bem baixinho, parecendo não querer dizer: “Você sabe que me criticaram porque eu vim ver este show, pois acham que é um espetáculo que não deve ser visto?”. Como se o Caetano, de 82 anos, e a Bethânia, de 78, fossem artistas perigosos aos bons costumes eleitos por essa direita que tem pavor à liberdade, à inteligência, à irreverência e, talvez, ao humor. Fiquei pasmo de ver onde buscam inimigos e como constroem os muros. Fossos de ignorância e de intolerância. Abismos que só servem para se perder.
Mas porque nenhuma coisa apodrece como outra (nem por outra).”